À procura de Barbies?
O Daniel Oliveira chama a atenção neste post para este artigo do Avante. O Daniel fala em incompreesão do passado. A ler o artigo tenho muitas dúvidas que seja, apenas, isso.
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Afinal, há parágrafos em que o autor "vê" exactamente o que se passava em Berlim: "Neste quadro, Berlim, cidade quadripartida em zonas de ocupação, funcionava simultaneamente como porta de entrada nos territórios socialistas e como montra das maravilhas ocidentais aos olhos de quem vivia do lado de lá e não tinha acesso a grandes carros, a «jeans», a aparelhagem sofisticada, a Barbies. Que apenas tinha coisas de pouco valor ou pelo menos pouco valorizadas: emprego, serviços de saúde, apoios na área cultural, educação. Pelo que o Ocidente fazia figura de paraíso na Terra bem ao alcance da mão: bastava sair pela porta de Berlim enquanto, no sentido oposto, transitavam os portadores da «democracia» que haviam de «libertar» o Leste comunista."
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O autor "vê" portanto que os alemães de Leste viam no Ocidente coisas que não tinham. O autor resume a coisa a Barbies, a jeans e a carros caros, não enxergando (ou fingindo não enxergar) a falta de respeito por todo um povo que este resumo significa. O resumo faz do povo da Alemanha de Leste um povo que troca centros de saúde por jeans, emprego por Barbies. O autor não entende que respeitar os alemães que viviam do outro lado do Muro, passaria por juntar coisas um pouco mais sérias às "visões". Liberdade e Democracia, por exemplo. Mesmo que, ou sobretudo se, depois se desse ao trabalho de "desmistificar" o que essa Liberdade e essa Democracia podem ter significado em termos de retrocesso social.
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O autor escreve mais à frente: "Berlim era, pois, a um tempo, canal de hemorragia e via de livre infecção, e isto em plena situação do que se chamou Guerra Fria." e aqui o autor volta a saber o que "vê", a hemorrogia era de lá para cá. O Muro foi feito como ele próprio reconhece: "Para estancar a hemorragia e travar a infecção" erguendo assim uma barreira "que permitisse controlar entradas e saídas". O autor "vê" que há quem quisesse sair da Alemanha de Leste e que havia que impedir que se saísse da Alemanha de Leste. Havia quem, nas suas palavras sobranceiras, procurasse a aparelhagem sofisticada em vez de querer guardar o apoio na educação. E o Estado leste alemão, tal pai repressor, supostamente, preocupado com o bem estar dos seus filhos, ergue o Muro para que "a República Democrática Alemã, pudesse defender-se de uma permanente invasão «branca» e de um constante fluxo de emigração ilegal.". O articulista, por momentos, deve ter-se lembrado, seguramente que tem que se ter lembrado, que a emigração ilegal não se faz à procura de Barbies. Que um constante fluxo de alemães ou de portugueses que deixaram as suas casas e as sua famílias, sujeitos aos tiros das fronteiras como ele fala ou de norte-africanos que partem hoje, sujeitando-se aos naufrágios no mar, não o fazem procurando roupas de marca. O articulista deve saber tudo isso. Contrariamente ao Daniel Oliveira eu acredito que as pessoas aprendem com a história. Não querem é reconhecer que aprenderam. Não é estupidez. É teimosia. E uma grande dose de insensibilidade.
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Afinal, há parágrafos em que o autor "vê" exactamente o que se passava em Berlim: "Neste quadro, Berlim, cidade quadripartida em zonas de ocupação, funcionava simultaneamente como porta de entrada nos territórios socialistas e como montra das maravilhas ocidentais aos olhos de quem vivia do lado de lá e não tinha acesso a grandes carros, a «jeans», a aparelhagem sofisticada, a Barbies. Que apenas tinha coisas de pouco valor ou pelo menos pouco valorizadas: emprego, serviços de saúde, apoios na área cultural, educação. Pelo que o Ocidente fazia figura de paraíso na Terra bem ao alcance da mão: bastava sair pela porta de Berlim enquanto, no sentido oposto, transitavam os portadores da «democracia» que haviam de «libertar» o Leste comunista."
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O autor "vê" portanto que os alemães de Leste viam no Ocidente coisas que não tinham. O autor resume a coisa a Barbies, a jeans e a carros caros, não enxergando (ou fingindo não enxergar) a falta de respeito por todo um povo que este resumo significa. O resumo faz do povo da Alemanha de Leste um povo que troca centros de saúde por jeans, emprego por Barbies. O autor não entende que respeitar os alemães que viviam do outro lado do Muro, passaria por juntar coisas um pouco mais sérias às "visões". Liberdade e Democracia, por exemplo. Mesmo que, ou sobretudo se, depois se desse ao trabalho de "desmistificar" o que essa Liberdade e essa Democracia podem ter significado em termos de retrocesso social.
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O autor escreve mais à frente: "Berlim era, pois, a um tempo, canal de hemorragia e via de livre infecção, e isto em plena situação do que se chamou Guerra Fria." e aqui o autor volta a saber o que "vê", a hemorrogia era de lá para cá. O Muro foi feito como ele próprio reconhece: "Para estancar a hemorragia e travar a infecção" erguendo assim uma barreira "que permitisse controlar entradas e saídas". O autor "vê" que há quem quisesse sair da Alemanha de Leste e que havia que impedir que se saísse da Alemanha de Leste. Havia quem, nas suas palavras sobranceiras, procurasse a aparelhagem sofisticada em vez de querer guardar o apoio na educação. E o Estado leste alemão, tal pai repressor, supostamente, preocupado com o bem estar dos seus filhos, ergue o Muro para que "a República Democrática Alemã, pudesse defender-se de uma permanente invasão «branca» e de um constante fluxo de emigração ilegal.". O articulista, por momentos, deve ter-se lembrado, seguramente que tem que se ter lembrado, que a emigração ilegal não se faz à procura de Barbies. Que um constante fluxo de alemães ou de portugueses que deixaram as suas casas e as sua famílias, sujeitos aos tiros das fronteiras como ele fala ou de norte-africanos que partem hoje, sujeitando-se aos naufrágios no mar, não o fazem procurando roupas de marca. O articulista deve saber tudo isso. Contrariamente ao Daniel Oliveira eu acredito que as pessoas aprendem com a história. Não querem é reconhecer que aprenderam. Não é estupidez. É teimosia. E uma grande dose de insensibilidade.
Etiquetas: Isabel Faria
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Vou tentar colocar um post como comentário a este artigo. Mas subscrevo na integra.
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