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quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Ode, sem estrofes nem versos, a uma urna de voto


Há duas semanas, alterámos os estatutos da CT da minha empresa. Para a semana, vamos fazer eleições para a CT. Só há uma lista e isso não só nos dá uma enorme responsabilidade como nos coloca questões às quais não sei responder...talvez saiba para a semana, depois das eleições e de estar em posse dos resultados. Confiança ou apatia? Reconhecimento pelo trabalho feito ou medo?
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Mas não é sobre as eleições, mesmo, que me apetece falar, é sobre a urna de voto. Temos uma urna linda, de madeira, com trinta anos. Antes da alteração dos estatutos pedi a um colega que nos envernizasse a nossa menina, porque com o tempo e as obras na empresa, se encontrava algo amachucada e de má cara. Ficou linda. A sério. Tirando um arranhãozeco na parte de baixo, parece nova.
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Não tenho a certeza quando terá sido feita por um colega carpinteiro. Está assinada mas não tem data. Mas quem está na empresa, diz que ela sempre existiu...claro que nem sempe. Antes do 25 de Abril já havia empresa...e não havia eleições nem CTs. Mas já tem uma história longa, é uma urna adulta.
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No outro dia, quando a carregava para ser arranjada, pensava nas esperanças que, em jeito de voto, ali devem ter entrado. Pensava no que sentiriam, em 74 ou 75, os meus colegas quando lá colocavam o seu voto (as CTs eram em 74 e 75, para muitos de nós e, seguramente para muitos dos que já lá estavam, o embrião do que julgávamos ser um futuro novo)...e o que sentem hoje. Pensava nos sonhos que se perderam, mas, sobretudo, nos direitos que não se conseguiram salvaguardar. Muito menos, consolidar.
Quando voltei com ela, linda e renovada, senti-me algo recompensada. Perdeu um bocadito da parte de baixo, mas continua inteira.
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No fundo, deve ser como alguns de nós. Perdemos muitas partes de baixo, de cima ou de lado, alguns braços, sentimos tantas vezes inúteis as mãos, ficamos amachucados e arranhados e, muitas vezes, nos sentimos abandonados a um canto, como deve ter acontecido à pobre, durante as obras...mas renascemos sempre.
Com necessidade de verniz ou de um abanão, de um bocadinho de madeira ou de um empurrão, passados trinta e tal anos, ainda por cá andamos...entretanto, devem haver outras urnas por esse País fora. Sinal de que, apesar dos tempos, outros se juntaram a nós...
Sei lá, olho para aquela urna linda de madeira castanha e vejo o futuro. Sinto que não tenho alternativa se o não fizer. E até me afeiçoei ao arranhãozito.
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9Comenta Este Post

At 2/28/2008 10:16 da manhã, Blogger Leal Franco escreveu...

Isabel
Importas-te de me enviar uma cópia dos Estatutos novos?

 
At 2/28/2008 10:20 da manhã, Blogger Isabel Faria escreveu...

Claro que não...só não hoje porque os tenho nos meus documentos do serviço e hoje estou na CT...

 
At 2/28/2008 7:38 da tarde, Blogger o castendo escreveu...

Antes do 25 de Abril já existiam CT's. Ai essa história...

 
At 2/29/2008 1:20 da manhã, Blogger Isabel Faria escreveu...

António, Comissões de Trabalhadores, eleitas livremente pelos trabalhadores, por voto secreto e universal, com os objectivos da CTs consagrados na Constituição de 75 (ok, ou poderes idênticos, dada a impossibilidade temporal)...tem razão. Não conhecia.
Onde me posso informar sobre isso?
NB: Estou a falar mesmo a sério. Não tenho mesmo conhecimento...

 
At 2/29/2008 9:31 da manhã, Blogger o castendo escreveu...

Cara Isabel Faria,
Pode sempre pedir para a Soeiro Pereira Gomes, por e-mail, por exemplo, dados sobre CT's antes do 25 de Abril. Pode dizer que vai da minha parte. Ou se me der tempo eu posso pedir.
Mas se tiver o "Rumo à Vitória" ou o Relatório ao VI Congresso do Álvaro Cunhal, por exemplo, vêm lá citados exemplos. No livro sobre a célula de empresa também.

 
At 2/29/2008 10:49 da manhã, Blogger Isabel Faria escreveu...

António, obrigado pelas informações.
Possivelmente a minha ignorância será desculpada pelos 13 anitos...de antes do 25 de Abril...mas pensei sempre que as CTs e CMs foram estruturas de base nascidas, na sua forma actual, pelo menos, com a Revolução.

Pois...não tenho o relatório do A. Cunhal, ao VI Congressso...li o Rumo à Vitória, mas devolvi-o ao meu pai, seu legítimo proprietário, e há tempo suficiente para me recordar do livro...sem me recordar dos exemplos ou das descrições.
Resta-me a Soeiro Pereira Gomes...
Ok, se eu diser que vou da sua parte pode ser...acha que se disser que vou da minha, funciona??
(misto de brincadeira e picanço...desculpe lá, mas temos que manter algum humor , senão estamos fritos...).

 
At 2/29/2008 4:28 da tarde, Anonymous Anónimo escreveu...

CT livremente eleitas antes do 25 de Abril....realmente só no Rumo á Vitoria do Cunhal...essa BIBLIA para militantes pouco esclarecidos...

É claro que houve entrismo nos sindicatos fascista, com alguns resultados.

Houve casos, por exemplo a TAP, em que houve tentativas , de estruturas representativas dos trabalhadores, mas tudo muito incipiente, até porque CAXIAS E PENICHE estavam ali ao lado.

CT com representatividade, e com peso real nas empresas só depois do 25 de Abril, aliás quem acredita, que com a ditadura, militantes conscientes, se entregassem de mão beijada nas garras da PIDE,( DGS na versão do Caetano),

 
At 2/29/2008 5:13 da tarde, Blogger o castendo escreveu...

Caro Anónimo,
1. Oviamente que as CT's antes do 25 de Abril eram estruturas clandestinas, nalguns casos smilegais e mesmo reconhecidas pelos patrões (Grupo CUF)
2. Nenhum texto de teóricos marxistas-leninistas é uma «Bíblia» (há uma coisa que se chama dialéctica, que até foi inicialmente desenvolvida na Grécia antiga e depois, no século XIX por Hegel...)
3. Essa BIBLIA para militantes pouco esclarecidos fez a sua prova, na maioria dos aspectos essenciais, na prática da Revolução de Abril e no processo democrático que se lhe seguiu.
(quer na fase de ascenso, quer na fase de retrocesso)
4. Quanto ao sucesso do «entrismo nos sindicatos», recordo-lhe apenas as direcções sindicais democráticas eleitas nos anos 40, 50, 60, 70...
5. E, já agora, que a CGTP-IN nasceu quase 4 (quatro) anos antes do 25 de Abril
6. É óbvio que isso custou a prisão a muitos milhares de portugueses. Por exemplo, o Presidente eleito do Sindicato dos Conserveiros do Algarve, José Vitoriano, esteve, por esse facto, 17 anos preso. Mas ele devia de ser «um comunista pouco esclarecido»...

 
At 2/29/2008 6:03 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

Pois Anónimo, eu também conheço o que fala...agora, como aqui escrevi, CTs liveremente eleitas pelos trabalhadores antes do 25 de Abril, eu não conhecia. Falei a sério.
Cconheço a TAP e conheço a CUF..., mas não as conseguia integrar na afirmação do António que desmentia a minha afirmação
de que antes do 25 de Abril não havia eleições nem CTs...
Mas eu só tinha 13 anitos...e algo me podia estar a escapar.

António, sim, conheço bem o caso da CUF. Mas se é desse caso que fala...penso que a minha afirmação de que não havia nem eleições nem CTs antes do 25 de Abril, não demonstra que a minha História anda pelas ruas da amargura...apenas que estavamos a falar de coisas diferentes.

Eu afirmo, convictamente, que antes do 25 de Abril não havia eleições.
E conheço Humberto Delgado e o MUD e a CDE.

 

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