« Home | Caminhando pelo direito a amar » | Para mim a estreia mais ansiada do ano » | Ok, tá bem, mas e o carcanhol??? » | Quero lá saber do cheiro do casaco do homem... » | O garboso Secretário Geral » | Numa noite cheia de Fátima...valha-nos esta notíci... » | Façam o que eu mando mas não façam o que eu faço » | 13 de Maio (parte III) » | 13 de Maio (parte II) » | 13 de Maio »

sábado, maio 17, 2008

Encontro de CTs

Decorreu hoje em Lisboa, um Encontro de membros de Comissões de Trabalhadores organizado pelo BE. Pretendeu ser um Encontro em que se ouviram experiências e se tentou aprender com elas. E pensamos ser o 1º de outros Encontros que regularmente o Bloco irá realizar.
Numa tentativa de lutar contra o tempo, levava uma intervenção escrita... Mas como já vem sendo hábito, parece que ali, em frente ao microfone o tempo passa mais depressa e metade do que queria dizer ficou por dizer. No texto que aqui vos deixo fica uma aproximação do que sobrou (talvez não totalmente fiel, porque mesmo tendo cortado uma quantidade razoável de parágrafos...ainda deve ter havido coisas que não couberam no tempo...para além disto falei na minha empresa, algo que como podem entender não trago para o Troll.

"Um dia, há muito tempo, saí de casa dos meus pais para vir salvar a Revolução. Diziam-me que já era tarde...mas aos 17 anos somos os maiores e achamos que nunca é tarde para nada. Nem sequer para salvar revoluções.
Recordo que, desses dias, entre tantas outras coisas que ficaram, me ficou um cartaz. Não sei onde ou de onde. Dizia: Todo o Poder às Comissões de Trabalhadores. E falava de Poder Popular. Deve ter sido antes de eu vir de longe para salvar a revolução. Mas era essa a Revolução, a do Poder Popular, que eu queria salvar.
Trinta e tal anos depois de ter vindo de longe, a Revolução ficou por fazer, as Comissões de Trabalhadores não tomaram o Poder, mas resistem. As CTs continuam a ser do que de mais genuíno nos ficou do espírito de Abril. A Democracia de base. Representativa de todos os trabalhadores. Vivendo dentro deles, avançando um passo e recuando dois, mas sem desistir de avançar de novo. Vivendo os problemas de cada um e de todos os trabalhadores, numa mistura de combate político e de entrega pessoal.
Algumas vezes quase derrotados pelas crescentes pressões das entidades patronais que vão de tentativas de nos comprar com uma promoção ou um acerto salarial à opção de nos ignorar ou à tentativa de nos isolar.
Outras vezes, amargos por vermos trabalhadores desistirem de lutar pela sua dignidade e pelos seus direitos. Outras tantas, impotentes para lutar contra as condições de trabalho de trabalhadores de empresas de out sourcing ou de empresas de trabalho temporário que vemos todos os dias, que trabalham lado a lado connosco, que desempenham as mesmas tarefas que nós...mas que ganham menos, não têm direitos, nem horários, nem dignidade. Outras ainda sem conseguir que a Lei seja cumprida ou sem conseguir vencer a batalha perdida de um colega que desistiu de sobreviver. Outras, poucas, saboreando o sabor do dever cumprido quando vencemos um processo disciplinar, impedimos um despedimento ou conseguimos integrar um precário. E a situação no terreno é tão grave, que integrar um precário já é, apenas, conseguir fazer-lhe um contrato a termo...em que não tem estabilidade, mas adquire direito a férias, a 13º mês, a fundo de desemprego...a integração de trabalhadores com vinculos efectivos, já é, na maioria das vezes, apenas uma recordação...ou uma miragem.
...
As alterações que se preparam não auguram melhores tempos. As previstas alterações do Código de Trabalho que facilitam o despedimento e que deixam de tornar obrigatória a reintegração no caso de despedimento considerado ilícito pelo Tribunal, é mais uma vitória contra os “indesejáveis”. Tal como antes já tinha sido a retirada da protecção legal aos trabalhadores que exercem cargos em CTs. Mais uma vitória do patronato contra os que a promoção não comprou e a pressão ainda não venceu. Um trabalhador despedido numa empresa sob a capa da "inadaptação", mas que é efectivamente despedido porque é membro de uma estrutura representativa de trabalhadores e afronta as entidades patronais, defendendo os direitos dos trabalhadores, mesmo que o consiga provar em Tribunal, não é reintegrado na empresa...nem encontra emprego noutra. Eles conhecem-se todos demasiado bem para saberem o que esconde a inadaptação alegada e, em Tribunal, não provada.
...
Com o crescente afastamento das Direcções Sindicais das empresas e com a crescente dessindicalização, de cuja responsabilidade esse afastamento não é alheio, cada vez mais a luta e a resistência dentro das empresas tem, sobretudo, como motor, as Comissões de Trabalhadores.
Dizia, há poucos dias, um dirigente de um Partido, daqueles que acham que são donos da luta e das lutas, que nenhum “garboso militante do Bloco de Esquerda” chateia qualquer patrão...apeteceu-me, então, e apetce-me hoje, perguntar ao garboso dirigente do garboso Partido que se julga dono dos trabalhadores, há quanto tempo muitos dos garbosos dirigentes sindicais, grande parte dos quais garbosos militantes ou dirigentes do seu garboso Partido, não entram numa empresa para saberem o que chateia os patrões de hoje.
...
Nas propostas que aqui apresentamos, algumas há, a que temos que ser nós a meter mãos à obra. E rapidamente. Da proposta e da aprovação da criação de fundos para as CTs depende a nossa eficácia no combate diário contra as ilegalidades nas empresas e contra a imoralidade da Lei. Se queremos poder avançar para formas de luta consequentes temos que poder também usar esses fundos, advindos da participação voluntária, mas imprescindível dos trabalhadores, como um primeiro passo para um fundo de greve. A maioria das Direcções sindicais não podem ouvir falar em fundos de greve, escondendo o seu receio em perder o controle dos trabalhadores e das suas lutas, naquelas tiradas falsamente avançadas e revolucionárias de que a luta se faz com sacrifícios e que um revolucionário só é revolucionário a sério se passar fome. Os trabalhadores não deixaram de fazer greve,de lutar pelos seus direitos de uma forma consequente, apenas ou essencialmente, porque se acomodaram...os trabalhadores não fazem greve, não lutam de uma forma consequente contra a perda de direitos e o constante agravamento da suas condições de trabalho e de vida, também porque não sobrevivem sem o salário de um dia quanto mais sem o salário dos dias suficientes para que a luta seja vitoriosa.
Numa altura de crise social que se acentua, a mobilização dos trabalhadores para a defesa dos seus direitos e para a melhoria das suas condições de vida e de trabalho passa por criar condições para que a luta não seja à priori vencida pela casa por pagar, os livros dos filhos por adquirir ou, quem sabe, o jantar de amanhã à noite para comprar.
...
Podemos, todos nós, já não ter ilusões que tomaremos o Poder amanhã ao amanhecer...mas sabemos que amanhã ao amanhecer ainda passa por nós a responsabilidade de lutar contra a arrogância e a prepotência de entidades patronais em que só o lucro fácil conta, de lutar contra um Governo reaccionário e prepotente que se prepara para dar mais uma machadada no trabalho com direitos, com estabilidade, com segurança e com regras. E sabemos, até, que amanhã ao amanhecer vamos ter que lutar contra o alheamento e a desistência de muitos trabalhadores e contra o nosso próprio cansaço e desencanto.
....
Quando hoje olho para o meu filho com pouco mais da minha idade quando saí de casa, convencida que vinha salvar a Revolução, vejo um futuro sem futuro. Um futura à jorna. Cada dia mais igual ao dia a dia do meu avô quando se juntava com os homens da terra, na praça junto ao mercado, à espera que os latifundiários esticassem o dedo indicador e, sem sequer olharem, qual roleta russa, dissessem “Tu”, “Tu não”, “Tu”. Também são estes jovens trabalhadores descartáveis que temos que aprender a representar e a mobilizar. Não vale a pena contarmos com eles para as nossas lutas por aumentos salariais ou por melhores condições de trabalho se antes não estivermos com eles, com os jovens precários que trabalham ao nosso lado e com os nossos filhos que breve e inevitavelmente o serão, para a sua luta mais decisiva e mais premente: a luta para terem direito ao futuro.
...
A Revolução de hoje passa por aqui. Passa por evitar que o futuro dos nossos filhos seja um futuro à jorna cada dia mais igual ao passado dos nossos avós. E esta Revolução, a revolução que vença a precariedade para todos e para toda a vida, não podemos perder."
...
Nota de rodapé: Não é que seja signficativo para a forma como decorreu o Encontro desta tarde, que aludo neste Post. Apenas chamo a atenção porque dá para ver a objectividade e a isenção dos nossos orgãos de CS, nomeadamente da Televisão pública.
Na notícia da RTP escreve-se a certa altura: "no final de um encontro com três dezenas de activistas sindicais e sindicalistas". Jà nem entro pelo pequeno pormenor que se tratava de membros de CTs...e que não é bem a mesma coisa. Dou de barato que ele não saiba a diferença, que não saiba que há diferença.
Pertenci à organização do Encontro e estiveram presentes o dobro das pessoas de que o jornalista fala. Mas o jornalista não nos perguntou e peles vistos não contou...não que seja importante, dizia. Apenas não nos devemos esquecer disto quando virmos as contagens dos nossos orgãos de comunicação social, nomeadamente da RTP...quando se trata de eventos contra as políticas deste Governo. Nem sempre lá estamos e nem sempre dá para contar...desta vez deu.

Etiquetas:

0Comenta Este Post

Enviar um comentário

<< Home