Um post sobre dúvidas

Se há coisa sobre a qual eu tenho muitas dúvidas é sobre o voto, nomeadamente sobre a justeza do chamado direito civico se sobrepor ao dever cívico. Votar mais que um direito é um dever de um cidadão sob o risco de deixar de participar numa das poucas formas que as chamadas democracias consolidadas e avançadas deixam o cidadão participar.

Vem isto a propósito da discussão cada vez com mais eco sobre a obrigatoriedade do voto. Não faltará quem me vá relembrar que voto obrigatório era no tempo da outra senhora e que isso é um atentado à liberdade, mas facto é que um cidadão que não queira votar em ninguém pode fazé-lo na mesma só que expressando de facto a sua vontade.

Façamos um pequeno exercício.

Nas últimas eleições legislativas o PS conseguiu uma maioria absoluta no parlamento com 45, 3% dos votos ou seja 250000 votos, sensivelmente. Houve 65% de votantes, um valor alto nos tempos que correm.

Imaginemos que 100% das pessoas votavam e que os abstencionistas eram realmente não votantes em nenhum partido e que o voto branco ou nulo contaria de facto e não como está agora. O PS continuaria a ganhar mas com pouco mais de 30% e claramente sem maioria absoluta e mais, nem uma coligação PS/PSD teria maioria no Parlamento.

Transportem estes cenários para eleições com mais abstenção, o que não é difícil, e verão que haveria governos que não teriam a menor legitimidade para nos governar.

Posto isto continuo cheio de dúvidas sobre a questão do voto obrigatório. Será um atentado à liberdade ou um caminho para a representação plena de liberdade? Será o caminho para a opressão ou será um passo para a liberdade? Confesso que tendo a concordar, a exemplo do Brasil, com a obrigatoriedade do voto. A bem da democracia e da liberdade.