Temos mais 74 pela frente!!!

"Aquele senhor que desde a infância me conhece

Com que direito se enternece

Quando me vê?"

Reinaldo Ferreira

Se tivesse que escolher de entre tudo o que me deste e que ficará para sempre? Não saberia escolher. Ficará, entre tanta coisa, a forma como se te molham os olhos de emoção, perante uma alegria, uma tristeza, uma palavra amarga, um filme, um livro, o sorriso do teu neto ou um desabafo meu. Sem esconderes. Sem, sequer, achares que as emoções se devem calar ou disfarçar.

Se tivesse que escolher de entre tudo o que me ensinaste o que ficará para sempre? Não saberia escolher. Ficar-me-á, entre tantas coisas, quando me lias o Barranco de Cegos, comigo sentada nos teus joelhos, ficar-me-á a coragem com que deixaste tudo para começar de novo, vezes sem conta, ficar-me-á teres-me ensinado a ler e a suportar os Barrancos da vida, ficar-me-á teres-me ensinado a não ter medo de começar de novo, cada vez que o que está em causa é o nosso direito a ser feliz.

Se tivesse que escolher de entre o que sempre te agredecerei? Não saberia escolher. Talvez, entre tantas coisas, as vezes, as vezes sem conta, em que não me compreendendo me aceitaste. Porque é essa, meu querido, a prova maior de amor que me deste e me dás, as vezes em que as minhas opções te fizeram sofrer...e em que nunca, mas nunca mesmo, por elas te ouvi uma palavra de recriminação.

Se tivesse que agradecer de entre tudo o que me fazes sentir? Não saberia escolher. Agradeço-te, apenas, que ainda me continues a receber como a tua menina. E a emocionar-te com as minhas dores e as minhas alegrias. Como naquele tempo em que me levavas na velha Casal, para os ensaios de teatro na Casa do Povo, de antes do 25 de Abril. E antes de me deixares, olhavas em volta, com os olhos cheios do medo que a memória deixara, olhavas por detrás das árvores e dizias: eu tenho tanto medo, filha. Mas não acho que o meu medo te deva impedir de entrar.

E eu entrava, pai. E tu partias. Ambos deixando que os nossos sonhos vencessem os nossos medos.

Parabéns pai! E obrigado.