Sobre a CGTP e as lutas - II
A uma semana do Congresso da CGTP, fizeram-se todas as clarificações. Pela minha parte, sempre considerei positivo que elas se façam. Por isso, dou o meu apoio total à tomada de posição de um grupo de sindicalistas, entre os quais os meus camaradas de Partido, João Pascoal e António Grosso, e às declarações, hoje vindas a lume, do meu camarada António Chora.
Não sou nem serei apologista de, sob o pretexto de não se criarem divisões, se pactuar com sectarismos e com traições à democracia. E sou apologista de que chegou a hora, aliás, creio que já há muito ela deveria ter chegado, de denunciar o que se passa nas estruturas dirigentes dos Sindicatos de CGTP (a minha luta com a UGT é de classe, e pôr-se-á sempre noutros moldes) e da sua estrutura máxima, a CGTP.
Em declarações ao Expresso, dirigentes da CGTP declararam que o Chora, coordenador da Comissão de Trabalhadores da maior empresa do País, que, em termos de sindicalizados representa 1/5 dos sócios do Sindicato dos Metalúrgicos, não fará parte do Conselho Nacional da CGTP porque o seu nome foi proposto por uma Comissão de Trabalhadores. Lembram, e bem, os dirigentes da CGTP, que se trata de estruturas autónomas. Só que, logo a seguir, acrescentam um outo motivo para a exclusão: da CT da Autoeuropa fazem parte "elementos da UGT". Mas, então, em que ficamos? Se o Chora não entra por ser proposto por uma CT, a composição da CT nunca deveria ser trazida à bailação...os dirigentes da CGTP, ouvidos pelo Expresso, parece nem sequer se preocuparem em encontrar razões coerentes e convincentes para a exclusão. Assumem, sem muita vergonha e nenhum problema de consciência, que se estão a escudar em desculpas, que não têm, portanto, sequer, que ser coerentes.
Claro que os dirigentes da CGTP esquecem que o Chora também foi proposto por delegados sindicais e por um dirigente sindical da empresa. Claro que se esquecem que mais de 3000 trabalhadores da maior empresa do País não estarão representados no Congresso da CGTP. Claro que também se esquecem que o Chora nem como delegado foi aceite. E se esquecem que a maior empresa do País não terá um único trabalhador no Conselho Nacional da CGTP. Claro que esta exclusão demonstra também uma preocupante falta de tacto político...mas o sectarismo costuma ser demasiado cego para se preocupar com essas ninharias...
...
E claro que os dirigentes da CGTP, ouvidos pelo Expresso, sabem que eu, sindicalizada há quase 30 anos, não faço ideia de quem são os meus delegados ao Congresso ou os meus representantes no Conselho Nacional da CGTP. Porque, a uma semana do Congresso, não há um cartaz alusivo na empresa. Uma informação sobre quem, no sector, vai, de onde vai. Não fui informada pelos meus delegados sindicais (ok, ouso acrescentar que poria as mãos no lume que nem eles), de quem nos vai representar nos próximos anos na estrutura máxima da organização sindical para a qual pagamos quotas e pela qual, de uma forma mais ou menos distante (ou cada vez mais distante?), damos, politicamente, a cara.
...
Há anos que sou apologista, dentro do Bloco, que temos que ter a coragem política de assumirmos propostas alternativas a este sindicalismo. Seja em forma de tendência (não sei o que nos assusta no termo...) ou em forma de corrente organizada. Os trabalhadores que acreditam que o Sindicalismo alternativo, do Sec. XXI, tem que criar formas de luta novas e formas novas de chegar às lutas, tem que ultrapassar os sindicalizados e voltar a mobilizar os trabalhadores, tem que ousar enveredar por caminhos novos, nomeadamente propondo publicamente a criação de fundos de greve, única forma de garantir que qualquer mobilização dos trabalhadores, que se queira consequente, não seja vencida pelo "KO" dos encargos do final do mês e tem, sobretudo e antes de mais, que passar pela luta assumida, pública e politicamente, de alterar o método eleitoral para as Direcções Sindicais, não podem continuar, eternamente, a serem afastados e vetados políticamente (não pelos trabalhadores, os trabalhadores escolhem-nos para seus representantes, basta ver a composição da CT da Autoeuropa ou da Efacec (outro caso em que um outro elemento do BE, eleito para a CT da empresa é afastado pelo SIESI), e isto para não vir para aqui falar em causa própria, pessoal... mas por aqueles que se tornaram, fruto de um método eleitoral anti-democrático, caduco e desmobilizador, donos do Movimento Sindical) ou, quanto muito, usados como jarra (solitário, daqueles de cómoda, seria um termo mais exacto...) de uma suposta unidade que não existe, porque não aceita nem permite diferenças.
...
(Também publicado no Luta Socialista)
...
Etiquetas: Isabel Faria
17Comenta Este Post
Subscrevo o post a 100%.
Por isso é que eu já saí de delegado sindical, ou melhor não me recandidato, porque acho que não quero estar associado ao mau serviço que esta CGTP presta aos trabalhadores e como tu dizes da UGT nem falo. É de facto uma questão de classe.
Não é o Bloco que deve organizar uma corrente ou tendência. São os trabalhadores membros do BE ou de outros partidos de esquerda que têm de criar alternativas ao "unitarismo" do PCP.
Não esquecer que os comunistas do PCP estão muito bem organizados na CGTP e controlam, por isso mesmo.
José Manuel, como sabes não foi isso que eu disse...claro que o Bloco nunca se poderia nem deveria organizar como tendência em lugar nenhum dentro da CGTP. O que escrevi, é que dentro do BE há muito que defendo que os tranbalhadores, membros do BE se deveriam organizar como tendência ou qualquer outra coisa, que, exactamente como tu dizes, crie alternativas ao falso (as aspas é para isso, ou não?) unitarismo do PCP.
E, como também sabes tão bem como eu, dentro do Bloco, reformulo, para que fique claro que falo nos trabalhadores, membros do Bloco (outra coisa, para mim, não poderia ser, mas pelo teu comentário, vi que interpretaste de outra forma) não tem sido essa a opção. A opção tesm sido, na quase totalidade das vezes, aceitar o tal papel de jarra (ou de solitário) que o PCP nos oferece.
Só que cada vez menos o PCP está disposto a oferecer-nos esse papel. Sobretudo quando o PC sabe que se trata de trabalhadores que eles não só não podem contolar, individualmente, como que têm um papel mobilizador nas empresas e/ou nos sectores que também foge completamente ao seu controle.
E só que, cada vez considero um erro maior, estarmos, (repito a tua formulação, para que não fiques com dúvidas de quem de quem e de que falo), nós, trabalhadores membros do Bloco ou independentes que acreditamos num sindicalismo novo, alternativo, democrático, de base, fora dos calendários partidários, disponíveis para o papel de jarra ou solitário, num tipo de sindicalismo que está a levar os Sidicatos ao isolamento completo dentro das empresas.
Como escrevi num outro lugar é um erro acreditar que a mobilização se mede pelo número de pessoas que se trazem à rua...é um err ainda maior se nós, que porque estamos na base e não nas Direcções dos Sindicatos,há anos afastados dos trabalhadores e das suas realidades, não o dissermos bem alto.
Daniel, esse é o problema se não soubermos ou quisermos criar alternativas. Os que, de entre nós, não têm mais paciência para ser jarra, para os golpes baixos, para os jogos de bastidores, acabam por se afastar e a maioria das vezes por desistir de encontrar alternativas e lutar por elas.
E por isso eu digo que é um crime continuarmos a pactuar...e por isso comecei por dizer que apoio totalmente os nossos camaradas que publicamente assumem que o caminho não é este.
Como fizeram o Pascoal, o Grosso e o Grilo (esqueci-me de mencionar o Manuel Grilo do Sindicato dos Professores que subscrevia o mesmo documento) e como hoje fez, e bem, o Chora, ao assumir publicamente que se trata de um veto político e como tal tem que ser denunciado.
Não gosto de política ,não gosto dos políticos e não gosto dessa treta de sindicatos.São todos uma corja que se vende muito rapido.
ps
mais vale uma na mão que duas no soutien
Anónimo, mas piores são aqueles que não se assumem. Eu quando critico dou a cara. Só assim faz sentido criticar.
Anónimo, pois sobre gostos não me pronuncio...mas isso são quase sempre desculpas para se cruzar os braços e assobiar para o lado.
Quanto à parte da mão e do soutien é que não entendi mesmo. Nem sequer o sentido da coisa.
A CGTP é a ultima trincheira do PCP, o seu seguro de vida.
Por isso se tiverem ilusões sobre processos democraticos, sobre congressos abertos desenganem-se
O PCP vai manipular, expulsar, isolar sem quaisquer escrupulos, quem não fôr da côr , e mesmo em relação aos militantes do partido, só vai aceitar os yes men.
Carvalho da Silva por muito que tente negar o óbvio, é conivente.
O que se pergunta, é se a CGTP como está organizada, tem razão de existir...
E por quanto mais tempo se arrogará uma representatividade que há muito deixou de ter....
Anónimo, completamente de acordo com o seu comentário.
Até com a parte em que diz que Carvalho da Silva é conivente com o sectarismo e com a manipulação.
Pelo que se sabe, acabou por, mais uma vez, aceitar a "pureza".
Por isso, me faz sempre alguma confusão quando se apresenta com algum entusiasmo o Carvalho da Silva como um futuro candidato de toda a Esquerda contra Cavaco... Enquanto não se demarcar destes congressos "unitários" e destes métodos, Carvalho da Silva, para mim,´será sempre, caso se venha algum dia a candidatar às Presidenciais,o candidato do PCP...ok, talvez mais "moderno" que Jerónimo de Sousa. Mas como a Democracia para ser democracia não tem que ser moderna, tem que ser genuína, não será diferente do que têm sido as candidaturas presidenciais do PC.
Ah, e sim. Concordo completamente com essa parte da representatividade...mas o que me preocupa não é, exactamente, quantos trabalhadores representa hoje a CGTP...é qoe fazem os seus dirigentes para vencer o caminho para o isolamento...
Claro que daqui a uma semana a CGTP nos vai falar em renovação, na quantidade de gente nova que vai entrar...falta-nos de facto explicar quanta gente nova essa gente nova representa.
Isabel, percebo o teu pensamento quanto a Carvalho da Silva, mas estás errada. O PCP não concordará com a candidatura de CS. Só os puros interessam ao partido do Jerónimo. Acredita. Ele está a gerir a situação dentro das duas possibilidades. Era pior bater com a porta, é isso que o PCP quer.
José Manuel, ok, então esqueçamos, primeiro, a nossa capacidade ou não de fazer futurologia.
Remetamo-nos ao presente que interessa. Ao das lutas consequentes e da mobilização dos trabalhadores contra Sócrates e o seu Governo e pela criação de uma aleternativa.
O PCP aceita menter Carvalho da Silva. Fecha ainda mais a CGTP. Sectariza a sua actuação. Afasta tudo que não pode controlar. Afasta trabalhadores e desmobiliza lutas, fazendo-as apenas e só ao sabor do seu calendário. O que ganham os trabalhadores com o facto de lá estar Carvalho da Silva, nestas condições? Nota que no "nestas condições" está toda a diferença...eu seria a primeira a insurgir-me contra o afastamento de CS...por imposição do PC. Só que CS continua, mas o Congresso será aquilo que se avizinha. CS não continua poque o PC aceitou as suas imposições e as suas possíveis distanciações... CS continua porque cedeu, acredito que pela mais razoável e, de seu ponto de vista, útil, das razões, às imposições e ao fechamento da Central, de que falava o Chora...a pergunta que se impõe é, portanto, apenas uma: a clarificação de CS e o seu voluntário afastamento desta actuação e desta política servia mais ou menos os interesses dos trabalhadores, a radicalização das lutas e sua a mobilização? E,já agora, a credibilização do Movimento Sindical?
Agora, façamos, apenas e só, um pouco de futurologia.
O mandato da Direcção da CGTP é de quatro anos, não é? A do coordenador também. As presidenciais são daqui a três...para que CS apareça como esse candidato de que falas,o da Esquerda, possivelmente, dizes tu, não apoiado pelo PCP, só se houvesse um distanciamento das políticas e das práticas da Central nos próximos três anos...acreditas que haverá? para haver, porque não agora? O próximo Congresso será depois das presidendiais, José Manuel...não é utópico pensar que Carvalho da Silva vai, durante o seu próximo mandato, fazer o que nunca fez nos anteriores: demarcar-se publica, politica e ideologicamente do tipo e dos objectivos do sindicalismo da Direcção da CGTP e do PCP?
Poqrue se a intenção fosse, de facto, uma possível candidatura presidencial de Esquerda em 2011, ela é possivel se não houver essa demarcação?
Respondendo, mesmo claramente, à tua hipótese: num puro acto de futurologia, não me vejo nada a apoiar, daqui a três anos, um candidato que não se demarque de quem, neste momento,veta politicamente a eleição como delegado do Coordenador da CT da maior empresa do País (isto para voltar ao príncipio do post...). Tu vês?
Ou estamos a falar em...2016??? Mas, espera lá, a Esquerda não se pode dar ao luxo de esperar 8 anos por um "salvador", pois não?
caríssimo Daniel,sou anonimo mas conhecido por alguem deste blog.politicamente ateu sou um observador do que me rodeia e não posso deixar em claro as negritudes do sistema sindical ( e até sou "sócio" da cgtp desde 78)filossofia na oposição e render da guarda no poder!É O QUE SE PASSA neste Portugal ...A utupia é geral.Uns por viverem nos anos setenta e outros por pensarem que irão conseguir o apogeu.Basta uma palmadinha nas costas ....
Para a menina Isabel contínuo a dizer que mais vale uma POMBA na .......que duas a voar!
mais vale uma na mão que duas no soutien=mais vale uma pomba na mão que duas a voar
Anónimo, faxavor de começar SEMPRE os comentários com minuscula. Brigado.
E não és nada politicamente ateu...Um politicamente ateu não faz a análise (concordando ou não com ela) que tu fazes. Apenas assobia...e finge que não vê.
Quanto à POMBA, cum caraças...ou tou muita estúpida ou só me lembro dumas pombas de pão doce que se vendiam em Santarém quando eu andava no Liceu ...e não percebo o que raio me fariam dois bocados de pão doce dentro do soutien...:))))
Mas hei-de lá chegar...às pombas, quero dizer.
Obrigado pelo =...mas ainda tou à procura da gaja...até porque, com a clarificação, alargaste consideravelmente o espaço...onde procurar a dita.
Jasus,credo!Tanta pomba e nenhuma é branca....
Para ajudar a festa:
Zero é o número de sindicalistas do BE na Comissão Executiva da CGTP - o verdadeiro órgão de direcção da central. Assim era, assim continuará a ser, já que nem comunistas nem socialistas se dispuseram a abrir espaço aos bloquistas. Dos 29 membros da Executiva, 19 militam no PCP - nove dos quais do Comité Central. Cinco são do PS e outros cinco são tidos como independentes - um é comunista renovador, outra (católica) é deputada municipal da CDU em Lisboa.
E já agora façam o favor de ler este artigo também.
Enviar um comentário
<< Home