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sexta-feira, março 21, 2008

Sobre o video

O video que ontem correu a Net e os telejornais, sobre uma cena de pugilato numa escola do Porto, dever-nos-ia fazer parar e pensar um pouco. Não me parece que porque seja novo ou raro. Apenas porque nos apercebemos de uma possível razão porque não sendo nem novo nem raro, as estatisticas continuam a dizer que este tipo de problemas são excepção...e eu, sinceramente, não tenho a certeza se são. Os professsores, por uma ou outra razão, possivelmente uma das quais será o medo, não denunciam estas situações, a não ser em desabafos inconsequentes. Nem usam os meios que existem para as combater.
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Os pontos que retenho e as questões, mesmo que se não "politicamente correctas", que eu coloco:
1 - O aluno que filma esta cena, sem a autorização dos intervenientes e que a divulga com rostos, sem o conhecimento dos intervenientes, dando-se ao luxo de dar indicações aos protagonistas de como se situarem : "sai da frente"; "oh gorda tira-te daí", vai continuar a poder entrar na sala de aula com a sua "arma", a Câmara de filmar do telemóvel, em punho?
2 - A aluna que se levanta para recuperar o telemóvel e que inicia uma luta de corpo a corpo com a professora, que o acto imoral do seu colega que a filmou, acabou por não poder ser desmentida, vai voltar para a escola sem nada lhe acontecer?
3 - Os pais de um e outro, dado que se trata de menores, não são judicialmente responsabilizados (responsabilizados como pais, não são, seguramente, ou os seus filhos não teriam sido protagonistas de tal episódio) por um deles filmar e divulgar um filme sem conhecimento e autorização dos participantes e a outra agredir fisicamente uma pessoa?
4 - A professora não deveria ter conseguido, perante uma situação destas, e tudo leva a crer que não deverá ser uma situação nova e a professora já está na turma desde Setembro, encontrar uma outra resposta, que não a de entrar num confronto físico pela posse do telemóvel? Devolvê-lo à aluna e obrigá-la a sair da sala, comunicando se seguida o sucedido não seria a atitude lógica? Eu não sei se são usadas, mas no boletim de notas do meu filho, vem sempre uma indicação de "faltas disciplinares". Até podem não servir para nada...mas existem.
5 - O que fizeram os pais daqueles alunos, dos que assistiram passivamente e em grande galhofa, da aluna que agrediu e do "realizador" de cinema, aos seus filhos quando tomaram conhecimento deste episódio? Obrigaram, ao menos, os seus filhos a pedirem desculpas à professora, pelo sucedido? Ou pediram-nas eles próprios?
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Sou mãe. O meu filho sempre andou em escolas públicas. Nalgumas turmas sei que houve alunos dificeis. Ao longo dos anos, foi-me contando alguns episódios de indisciplina, mas, sobretudo, de falta de educação dentro da sala de aula. Não tirei nenhum diploma de mãe nem sou melhor nem pior que muitos outros pais. Tenho a certeza que o meu filho nunca seria protagonista de uma cena destas dentro de uma escola. Não porque é melhor ou pior que os outros. Mas porque cenas destas não acontecem na nossa sala de estar. Palavras daquelas - a velha vai a cair - nunca entraram na nossa cozinha.
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Tem que se repensar algumas coisas. Sinceramente não sou daqueles que acham que ser de Esquerda implica aceitar que dentro da sala de aula ou dentro de uma casa, não tem que haver hierarquia. Sou daqueles que acredita que, fruto de uma sociedade que não dá tempo aos pais de estarem com os seus filhos, mas também, fruto de muitos pais se terem demitido da sua função de pais, um grande problema que hoje temos que enfrentar é o de sabermos que tipo de ciadãos estamos a formar. Estamos a formar cidadãos que saibam e queiram viver em Democracia? Se deixamos que um puto de 14 ou 15 anos, pense que liberdade é poder passar uma aula a enviar SMS ou a jogar jogos de telemóvel, que é possível virar-se contra um professor ou um colega, impunemente, que o telemóvel serve para gravar cenas de pancadaria dentro da sala de aula e que nada lhe acontecerá por as divulgar, desrespeitando tudo e todos, estamos a prestar um mau serviço aos nossos filhos. E ao seu futuro.
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Há tempos, porque habtualmente o meu filho às Segundas Feiras sai às treze horas, enviei-lhe um sms às três da tarde. Nesse dia, tinha uma aula de matemática suplementar, da qual eu me tinha esquecido, e ele estava no meio da aula...
O telemóvel estava sem som, mas como a professora estava perto dele sentiu a trepidação...
"João Pedro, não devias ter desligado o telemóvel antes de entrar na aula?"
"Mãe, fizeste-me passar por uma vergonha do caraças!!! mas não sabias que eu tinha matemática???" " "Esqueci-me..." "Ah, pois e eu esqueci-me de desligar o telemóvel, e o gajo começa a tremer e aquilo quando treme, treme mesmo, e a sotôra ao lado...fiquei com cara de parvo por tua causa!!".
Pedi desculpa. Mas acrescentei "Não foi só por minha causa...se o tivesses desligado, eu podia enviar mil SMS por me ter esquecido da aula, que ele não tremia e tu não passavas por vergonha nehuma..."
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Quando perdemos algum tempo a tentarmos fazer cidadãos, às vezes, eles chamam-nos a atenção quando fazemos asneiras...e nó até podemos ripostar, com a certeza que eles entendem e ficamos, nessas alturas, com a sensação que vale a pena ter sido apanhada em "flagrante". Que serve para alguma coisa.
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Ah, e ficamos com outra certeza: dos professores podemos esperar que os ensinem. Aos professores podemos exigir que sejam melhores professores.
Mas aos professores não podemos nem devemos exigir que os criem. Os profesores podem e devem fornecer aos nossos filhos conhecimentos para serem melhores operários, médicos, engenheiros, professores ou astronautas...mas a única responsabilidade de os fazer melhores cidadãos é nossa.
E tudo o resto é desculpabilização da treta.
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11Comenta Este Post

At 3/21/2008 3:46 da tarde, Anonymous Anónimo escreveu...

O problema central são os pais.

Que educação dão os pais a esta rapariguinha ,para ela se achar com direito, de se pegar desta forma com a professora.

Ou há aqui muito laxismo destes pais,ou então o melhor, era terem estado quietos, quando pensaram em ter filhos.

Para mim os principais responsáveis são os pais, ponto final.....

 
At 3/21/2008 6:04 da tarde, Anonymous Anónimo escreveu...

Podemos "isolar", muitos aspetos em particular de 1 a 3, mas claro, julgo,a maior generalidade que vem a seguir está mais perto de poder chegar próimo do problemas e, talvez, atená-los.
Bom seria que muitos pais tivessem dito aos filhos que não podiam levar tms para as escolas. Mesmo sem som são objeto de distração, ás vezes espera-se ansiosamene, e sem a atenção á aula um toque ou uma vibração que perturbará o acompanhamento do que se está a falar na aula. Daí que a meu ver, as escolas tinham de proibir a entrada dos tms. nas aulas, encontrando as seguranças necessárias( devemos acompanhar os profs. nas suas lutas, mas tambem acompanhá-los na criação de mínimas condições de trabalho, o que inclue, a meu ver,a completa exclusão dos tms. nas aulas,então servindo para tanta coisa mesmo sem fazer barulho ).Da luta mais ou menos livre nem se fala.
Não será tão relevante se a aluna volta ou não, se vão apanhar uma talhada forte ( como deviam, acho )
em particular o realizador, que não deve ser ter deixado os ensaios por mãos alheias.
O resto, e é quase tudo, não só não o consigo equacionar agora de forma inteligivel ( estou a fazer um esforço nesse sentido )como gostava de que houvesse mais comentários, que não devem ficar por a culpa é só dos pais, dos profs.,dos comunistas ,do salazar, do 25 de Abril,dos fascistas ( que, aliás que sabem o que estão a ganhar, nem sequer do sócrates. Temos que falar muito e tambem "comentar" muito,sem grande preocupação de consensos, ou impossiveis ou sonsos, que se quebrariam no próximo acontecimento.


objecto de frequente distração

 
At 3/21/2008 7:27 da tarde, Blogger saltapocinhas escreveu...

«Mas aos professores não podemos nem devemos exigir que os criem.»

só que essa é uma lição que muitos pais ainda não aprenderam!!

 
At 3/21/2008 8:33 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

Anónimo, eu não sou capaz de fazer uma lista de responsabilidades, com primeiros, segundos, etc.
Agora que os pais não podem deixar de ser responsabilizados, lá isso não.
Sempre houve adolescentes Nós fomos adolescentes. Transgredimos, fizemos asneiras. Mas o que se passou naquela salade aula, é algo mais do que isso.
E assobiar para o lado e dizer que as estatisticas dizem que são casos isolados, não me serve de consolo. Como ma~e e como cidadã não me serve de nenhum consolo.

 
At 3/21/2008 8:46 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

FJ, podos ter razão. Mas deixa-me dizer-te uma coisa: nunca disse ao meu filho que não podia levar o telemóvel para a sala de aulas. Pelo que sei,e ainda há pouco confirmei com ele, e não tenho nenhum motivo para não acreditar, a única vez em que aconteceu um acidente, foi a que aqui relatei.
Não foi necessário dizer não leves. Ele sempre o levou e sempre o desligou (às vezes, para mal dos meus pacados, confesso, que como mãee galinha, entro em pânico, quando tempos depois das aulas terminarem ele se esquece de o ligar...).

Mas concordo contigo que a solução não passa por encontrar culpados, por fazer comparações com antigamente, ou por assobiar para o lado. Há toda uma discussão a fazer. Sem tabus, sem fantasmas mas,também, sem enjeitar responsabilidades.
E também concordo que, possivelmente, um próximo episódio qualquer, poderá pôr em causa aquilo que hoje podem ser algumas certezas...mas é para isso que serve a discussão, não é?

 
At 3/21/2008 8:52 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

Eu sei, Saltapocinhas.
E vou mais longe. Abicamos de ser pais com a mesma facilidade com que abdicamos de ser cidadãos.
Abdicámos de direitos e de deveres fundamentais. Um dos quais, o de "criar" homens e mulheres que não abdiquem nem de uns nem de outros.

 
At 3/23/2008 11:42 da manhã, Blogger josé palmeiro escreveu...

Como eu concordo contigo, Isabel.
Gostei do que escreveste, eu que sou pai e avô.
Já agora, e a ministra, depois da tomada de posição, ontem na TSF, que megera!
Todos os inventos, são válidos, há que saber usá-los e depois, de se saberem usar, há que usá-los com parcimónia. Isto implica em muitos parãmetros, o principal a educação, que é o que falta, a tanta, tanta gente, e aqui entram os pais, o chá, tomado em pequenino e o exemplo, permanente. Depois a escola, melhor a ESCOLA, que esta não temos e a sociedade no seu todo, que sofre as vicissitudes, que todos conhecemos.
Bem mas hoje é Domingo de Páscoa, nunca mais o vou ter tão cedo e eu quero o melhor para TODOS!

 
At 3/23/2008 1:46 da tarde, Blogger fj escreveu...

Isabel, jp e alguns outros podem não se distrair, mas 99% distraem-se, com ou sem som ligado ( é a sociedade em que vivemos ) È uma medeida repressiva, sei, mas .parece-me a base para qualquer construção Exprimenta dar duas ou três aulas das de 90 minutos com os tms abertos, com som ou não, e talvez mudes um pouco.

 
At 3/23/2008 9:34 da tarde, Anonymous Anónimo escreveu...

Só mesmo uma idiota podia escrever isto: "O video que ontem correu a Net e os telejornais, sobre uma cena de pugilato numa escola do Porto"!

 
At 3/23/2008 9:52 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

José, eu sei que o problema é muito complexo, mas faz-me sempre alguma confusão comos alguns pais se põem de fora.
Não somos donos dos nossos filhos.
Mas somos nós que os crámos/ criamos.
Se abdicamos, ao menos de nos sentir responsáveis, pelas coisas que fazem, e de os responsabulizar por elas, não os vamos sequer ajudar a "safarem-se" nesta sociedade.

 
At 3/23/2008 9:56 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

Fernando, mas eu não discordei da proibição de se deixarem os telemoveis à porta. Possivelmente é uma medida necessária. Calculo que o meu filho iria achar injusto...mas também cá estou para lhe explicar que viver em sociedade tem regras...e nem todas elas seriam necessárias para cada um de nós. Mas cada uma delas é, seguramente, necessária para alguns de nós.

 

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