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sexta-feira, junho 19, 2009

Sobre a Autoeuropa e o ano 2009

Neste post não pretendo fazer nenhuma complicada análise política sobre a Autoeuropa. Comprendo a posição do Daniel em não se pronunciar sobre o assunto e, eu própria, mais por incapacidade motivada por uns dias complicados do que por opção, não o consigo, neste momento, fazer.

Há, e em resposta a muitos dos comentários aqui deixados, algumas coisas que me apetece dizer.

1 - A recente votação contra o acordo por parte dos trabalhadores da Autoeuropa, mostra como é correcta a opção pela Democracia e a aposta na participação. A opção pela Democracia e a aposta na participação teve/tem na Autoeuropa rostos. Entre eles os rostos e o empenho dos meus camaradas de Partido que fazem ou fizeram parte da CT. Se na Autoeuropa não se tivesse instituído o recurso a votações secretas e democráticas sempre que se trata de garantir os direitos dos trabalhadores ou de decidir sobre a sua vida na empresa, certamente, o resultado não teria sido este. E todos aqueles que acreditam que têm que ser os trabalhadores a decidir sobre o seu presente e o seu futuro e não qualquer iluminado ou qualquer intermediário, só se têm que se rever nestas opções.

Há um ano atrás, contactei o Chora para me dar uma ajuda a fazer as alterações aos Estatutos da CT da empresa que o Código de Trabalho obrigava, já que não poderiam haver novas eleições sem essas alterações.
A primeira recomendação/lembrete que ele me fez foi a de colocar a votação secreta nas decisões dos trabalhadores sobre acordos de empresa e tudo o que pudesse alterar as suas vidas ou implicar a perda de direitos. Não vinha no Código de Trabalho e contrariava a prática de muitos anos de plenários com cada vez menor participação e de decisões tomadas por cada vez menos. Era uma clara opção pela participação colectiva e pela responsabilidade democrática. Lá consta nos novos Estatutos da minha CT.
A Autoeuropa não é exemplo do sindicalismo novo, como, em tom de gozo, alguns dizem por aí. A Autoeuropa e todos os que vamos reiterando este tipo de opções políticas em prol da democracia e da participação, é, apenas, a prova, de que, séculos depois, aquela famosa frase que nos guiou e nos fez "a emancipação dos trabalhadores é obra dos próprios trabalhadores" não foi esquecida nem foi arquivada por tantos de nós. Mesmo que, fruto dos tempos, tantas vezes se subsitua emancipação" por "resistência".

2 - Há muito que o PCP tenta entrar na Autoeuropa pela "porta do cavalo". E a "porta do cavalo", passa, obviamente, pelo ataque a tudo aquilo que não sirva os seus interesses estratégicos. As tentativas de colocar os trabalhadores contra a CT, quando o que os trabalhadores fizeram foi discordar, legitima e democraticamente, de uma posição da sua CT, é mais uma dessa stentativas. O PCP faz isso em todas as empresas e em todos os sectores. Sei do que falo. Disso se fala nos comentários que por aqui passam. Não me apetece dar demasiada importância ao assunto.
Todos sabem que o que PCP se esquece é que a opção por ouvir os trabalhadores, na base, não é a sua opção. Basta ver como funcionam as Direções sindicais. Basta pensar nas lutas dos trabalhadores das últimas três décadas, por esse País fora, em empresas e em servços públicos.
O resto são contas eleitorais e eleitoralistas. Nada têm a ver com salvaguarda dos intresses e dos direitos dos trabalhadores.

3 - Há um erro que, creio, a CT da Autoeuropa não pode cometer. A responsabilidade pelos despedimentos que se vierem a verificar (se se vierem a verificar) na Autoeuropa ou por qualquer outra medida que a empresa vier a tomar lesiva e atentatória dos direitos dos trabalhadores, não é de quem, legitimamente, achou que não devia ceder e votou Não ao Acordo. A responsabilidade da crise não é, em Palmela ou no resto do Mundo, dos trabalhadores. Os responsáveis têm nomes e é legitimo e normal e salutar e um sinal de esperança que haja quem se recuse a pagar por uma crise que não provocou. Mesmo que isso acarrete riscos.

4 - Ser membro de uma CT é, neste momento, mais que nunca, uma tarefa árdua e desgastante. Quem me disser que tem certezas, eu perguntarei há quanto tempo não entra numa empresa. Quem me disser que tem soluções mágicas, eu questionarei quando foi a última vez que falou com um trabalhador contratado, um trabalhador a quem ameaçam de despedimento, um desempregado ou um precário.
O dia-a-dia das empresas tornou-se um mar cheio de ameaças, de chantagens, de medos, de sacanices, de pressões, de imoralidades e de atentados aos mais elementares direitos de cada um e todos nós. Já não só como trabalhadores. Sobretudo, como seres humanos.
Quem me disser que quando a Administração de uma empresa chega ao pé de qualquer um de nós, membro de uma CT, e diz: "ou fulano muda de horário...ou sicrano aceita "ajudar", ou amanhã haverá contratos que não são renovados". E acrescenta, claro que acrescenta sempre nestas alturas, pondo um ar de preocupação para com os mais desfavorecidos: "Sabem que ela é mãe solteira" ou " Sabem que a mulher também está desempregada e tem 2 filhos...já pensaram o que será deles? Tudo porque a, b e c não "colaboram"!?"; quem me disser que, quando nas negociações de aumentos salariais, lhe dizem, ou aceitam isto, e isto é uma miséria, obviamente, ou teremos que fechar aquilo e aquilo representa postos de trabalho e representa vidas, sabe que resposta dar, sabe que opção fazer, sabe que caminho tomar, quem me diser que nestas ocasiões tem certezas, eu só posso dizer que ou mente ou é irresponsável.
Quem me disser que as respostas de hoje são as de há 20 anos, quem me diser que consegue hoje contar com a mesma força e o mesmo alento dos seus colegas e que isso "compensa", como dantes, tantas vezes, "compensava", as pressões a que está sujeito por fazer parte de uma CT; quem me disser que descobriu a fórmula de não recuar sempre até ao abismo nem avançar sempre até ...ao abismo, quem me disser que eu hoje não estou de rastos depois de uma semana de constantes desafios e outros tantos desencantos e que sei o que fazer, e que sei que palavras dizer e que escolhas fazer...quem me disser tudo isto, mente ou não sabe o que diz.

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9Comenta Este Post

At 6/19/2009 9:43 da tarde, Anonymous Anónimo escreveu...

Pois é linda. Já dizia o Carvalho da Silva: trabalhadores não cedam. Vejam o que aconteceu na opel da Azambuja; os trabalhadores foram cedendo e no fim fecharam a fábrica. Não sei o que é que o C. da Silva queria dizer com isto. Se calhar se não cedessem não fechariam a fábrica. Seria isto que ele estava à espera? Demagogo de merda!!! É com estas e outras parecidas que os investidores abandonam Portugal. E vocês todos não descansam enquanto não fizerem disto uma terra queimada. O futuro já é estreito. Vejam o exemplo da Itália. mesmo com Berlusconi vocês perderam 7 (eu disse 7) deputados. É que eles não brincam em serviço. Medita. E o Daniel não se pronunciar sobre a Auto Europa é para não perder votos, percebes? Não se quer comprometer. Chama-se a isto democratas de pacotilha. Quando é com os outros é o bota-abaixo, agora mansinho que nem cordeiro. Estão-lhe a apertar os calos.

 
At 6/19/2009 10:14 da tarde, Anonymous Anónimo escreveu...

Isabel eu até percebo a pudor do Daniel Arruda de neste momento não querer publicar uma opinião , que possa de algum modo dar argumentos aqueles que tentam atacar o Chora.

Simplesmente ao ver o Chora vilipendiado por elementos ligados ao PCP, e a tentativa de o queimarem em fogo lento, sem que os seus camaradas do Bloco, mesmo aqueles que discordaram da proposta negociada, e até tendo votado contra ela ,não reajam com firmeza, sinceramente isto causa-me alguma perplexidade......

E essa perplexidade ainda é maior, quando vejo todos os esforços da maioria dos dirigentes do Bloco de tentarem uma aproximação ao PCP, para que se possa fazer frente, ao conluio PSD CDS, e á politica de direita de Socrates, e a resposta que vejo do PCP, ou melhor da sua direcção e de alguns militantes mais sectarios, é artigos no Avante como o do tal Leandro Martins ( pseudónimo certamente), ou de José Casanova com o titulo PERCEBE-SE, já para não falar em muitos blogues e comentarios, em que o BE acaba por ser na pratica, o inimigo a abater, a qualquer preço, pelo PCP.

Realmente a direita dos interesses consegue sempre unir-se pelo tacho, enquanto a esquerda julgo que nunca conseguirá sair do seu cantinho, pelo menos enquanto não começar a ser realmente combatido o sectarismo, e o PCP aceitar que em Portugal a esquerda é plural, e vai muito alem da base eleitoral do partido.

 
At 6/19/2009 10:23 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

Anónimo das 21,43h, acreditas que para além do Linda (apesar de não entednder o tm familiar!!9, não consegui ainda entender qual a tua posição sobre o que quer que seja...mas porque deve ser incapaciade minha, vou continuar a tentar.

 
At 6/19/2009 10:27 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

Anónimo das 22.14h, espero que, apesar de muito pobre em análise, o meu post tenha deixado claro o que penso do assunto.

E deixa-me acrescentar que a melhor maneira, penso eu, de lidarmos com esses ataques de que falas, é deixar claro o que eles significam. Uma mera tentativa de retirar dividendos eleitorais de um assunto tão sério e tão gave como o futuro e a vida de alguns milhares de trabalhadores. Algo que nem sequer é novo para quaqluer de nós.

 
At 6/20/2009 7:16 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

“E deixa-me acrescentar que a melhor maneira, penso eu, de lidarmos com esses ataques de que falas, é deixar claro o que eles significam. Uma mera tentativa de retirar dividendos eleitorais de um assunto tão sério e tão gave como o futuro e a vida de alguns milhares de trabalhadores.” ?
Esquisito. Porque foi para tirar vantagens políticas que o Chora se desmultiplicou em todos os media, a 5 de Junho (dois dias antes das eleições), a louvar o acordo, que 10 dias depois foi chumbado!
E agora foge de dar qualquer explicação até aos colegas! Belo exemplo de “democracia” e de “participação”. Que afinal – como vemos – se reduz ao voto secreto! Nem os mínimos cumprem.

 
At 6/20/2009 9:16 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

"Há muito que o PCP tenta entrar na Autoeuropa pela "porta do cavalo". ?

A culpa é sempre, sempre, do PCP. A Isabel vai candidatar-se ao Parlamento nas próximas eleições?

 
At 6/20/2009 2:41 da tarde, Anonymous Anónimo escreveu...

Mas afinal de quem é a Autoeuropa? Será que o patrão oculto é o PCP?

 
At 6/20/2009 6:37 da tarde, Anonymous Anónimo escreveu...

"Mas afinal de quem é a Autoeuropa? Será que o patrão oculto é o PCP?"


Ia lá a Isabel cascar no patronato...

 
At 6/21/2009 7:19 da tarde, Anonymous Anónimo escreveu...

Eu disse linda porque não estou zangado com vocês. Vocês são tão bons que escolheram como inimigo principal o ps e assim fizeram o favor de dar a vitória nestas eleições à Manela. Daí se conclui que vocês não fazem jogadas políticas. São uns santinhos. Tanto assim que escolheram o Sá Fernandes para a Câmara e logo que ele entrou em funções (e sabes que falar é fácil, difícil é depois passar das palavras à prática) lhe retiraram o apoio. Isso é de gente séria? Achas? Bem eu não acho. Esta é a diferença entre vocês e o ps. Vê o caso do Pateta Alegre, que para mim em política sempre foi pateta (ideias zero). Mas vê bem. Andou a fazer reuniões convosco, a dizer mal do ps e o ps não o pôs fora. Há muito tempo que se eu fôsse ps o teria posto com dono se pudesse, claro. Mas não; o ps desde sempre aceitou pessoas com diferentes ideias da direcção do partido. Podia dar muitos mas muitos exemplo. Lopes Cardoso, Salgado Zenha, etc. Vocês não, são sectários. Ao mais pequeno desvio, a uma ideia diferente, escorraçam logo a pessoa. Se é mentira prova-o.

 

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