As bandeiras e as faixas
No post que ontem publiquei sobre a Manifestação de Lisboa, alguns comentadores têm apontado o erro de levar faixas partidárias nas manifestações unitárias de trabalhadores. Numa das respostas a um desses comentadores, escrevi que muitas vezes me tenho questionado e tenho questionada os meus camaradas sobre essa opção do Bloco de Esquerda. E tenho. Aliás, se há algo de que me orgulho na minha humilde pessoa cheia de defeitos, é que, normalmente, tenho mais dúvidas que certezas...
Gostaria, no entanto, de fazer uma clarificação sobre essas minhas dúvidas.
Elas resultam, esencialmente, de um trabalho que não foi feito e de uma clarificação pública que se tem adiado. Um trabalho de desmontagem daqueles que não tendo faixas, usam as manifestações unitárias para cumprir os seus calendários partidários. Uma clarificação pública sobre a forma como a CGTP, a grande parte das vezes, coloca o seu calendário e o calendário das lutas dos trabalhadores a reboque desse calendário partidário. A falta de um e de outro, leva a que muitos trabalhadores entendam a participação do Bloco com as suas faixas com símbolos partidários, como divisionismo.
São esses legitimos mal-entendidos, criados por uma prática imposta e não denunciada a tempo e duma forma clara, que me provocam as tais dúvidas.
Que nada têm a ver, que isso fique bem claro, com a legitimidade que considero, que as forças políticas de Esquerda têm de se associar às manifestações políticas dos trabalhadores contra as políticas dos Governos que atentam contra os seus direitos e a sua dignidade.
Que nada têm a ver, que isso fique bem claro, com a legitimidade que considero, que as forças políticas de Esquerda têm de se associar às manifestações políticas dos trabalhadores contra as políticas dos Governos que atentam contra os seus direitos e a sua dignidade.
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A seguir ao 25 de Abril havia faixas partidárias nas manifestações unitárias de trabalhadores, resultado da liberdade conquistada e consequência lógica dela. Os Partidos políticos são a essência da Democracia representativa que, creio, todos, neste momento, aceitamos. As televisões, os orgãos de C. Social, nas manifestações de trabalhadores entrevistam os responsáveis politicos pelos Partidos Políticos que apoiam a Manifestação. Não penso que alguém de bom senso acredite que é o cidadão Jerónimo de Sousa que é entrevistado, ou o cidadão Francisco Louçã que faz declarações. Como dizia ali, num outro comentáro, correremos o risco, para se ser coerente, de um dia ver o Sec. Geral do PCP ou o Coordenador do BE serem impedidos de tecer considerações políticas sobre as Manifestações em que participam? Uma Manifestação deixa de ser unitária por Jerónimo de Sousa ou Francisco Louçã nela participarem? Qual a diferença com uma bandeira com o simbolo partidário?
Os inimigos dos trabalhadores não são os Partidos Políticos. Os trabalhadores não têm que se envergonhar dos seus Partidos Políticos. Os inimigos dos trabalhadores são as políticas de Direita que, politicamente, nas ruas, os trabalhadores contestam.
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As minhas dúvidas em relação às faixas e à distribuição de panfletos do Bloco nas manifestações unitárias tem a ver pois, com o facto de o Bloco nem sempre se distanciar duma forma clara da forma como são organizadas e como são "controladas" as manifestações de trabalhadores, permitindo assim que um acto nobre que deveria ser a manifestação pública e assumida da solidariedade dos Partidos de Esquerda para com as lutas dos trabalhadores, tenha quase que ter passado à clandestinidade...e possa ser, pelos trabalhadores, mal entendida.
As minhas dúvidas são sobre um distanciamento de métodos e de posturas, que não foi/é muitas vezes feito (nomeadamente em relação aos dirigentes da CGTP) e que leva a que seja passada a mensagem de que um direito (eu diria um dever, pois é dever dos Partidos de Esquerda, apoiarem politicamente as lutas dos trabalhadores) é uma acção divisionista ou, como também se ouve por aí, oportunista.
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As bandeiras e as faixas não me incomodam nada. A solidariedade dos Partidos políticos para as minhas lutas, como trabalhadora, é bem vinda. Incomoda-me que tenhamos deixado impôr esta ideia de que as bandeiras ou as faixas com simbolos partidários sejam um mal, incomoda-me que não desmontemos o que está por detrás dela duma forma consequente, ultrapassando assim, as dúvidas sobre sua legitimidade que se criaram em muitos trabalhadores.
Gostaria de ver bandeiras e faixas do PCP nas manifestações da CGTP. Era sinal que o PCP assumia duma forma aberta e natural que havia militantes do PCP nas manifestações de trabalhadores. Era sinal de que o PCP entendia que a solidariedade é um conceito essencialmente de Esquerda, era sinal de que o PCP optava finalmente pela Democracia aceitando a diferença e o pluralismo de opiniões.
E, já agora, era sinal de que eu não tinha que ter dúvidas ou receios sobre o entendimento que os trabalhadores possam fazer das faixas do meu Partido. O que confesso, também me dava jeito...
Etiquetas: Isabel Faria
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Os trabalhadores não são carneiros arrebanhados á dúzia pelo PCP, e levados em rebanho para as manifestações, ( alguns são, mas isso é outra historia), organizadas pelos sindicatos.
O problema destas pseudo-manifestações unitárias, e pluralistas, de unitárias e pluralistas têm muito pouco.
Palavras de ordem, gorilas do serviço de ordem, formas de desfilar, tudo é decidido, pelo CC do PCP, assim quem fôr de esquerda e quiser apoiar lutas dos trabalhadores, ou organiza manifestações autonomas, ou participa com as suas palavras de ordem e as suas bandeiras.
Certamente que nesta manifestação havia bandeiras do PCP, (olha quem,) o problema é que para reivindicar aquela mobilização, o PCP não podia aceitar, que outros partidos estivessem visiveis.
Quanto ao resto, se não gostam ponham á borda do prato, nas manifestações unitárias contra a guerra do Iraque , as instruções foram cada militante do PCP uma bandeira, e lá tivemos que gramá-los.
As manifes, organizadas ou não pela CGTP,( ainda veremos a UGT sózinha a organizar manifs)em defesa dos trabalhadores não devem ser de modo algum impeditivas de se levar bandeiras partidárias. Do PCP, BE, MRPP, POUS não vejo problema algum.
Só aqueles que se julgam donos da CGTP é que têm receio, com medo de perder influência.
É que para eles CGTP igual a partido, por isso são dispensáveis as bandeiras.
Vamos ver se nos entendemos.
Parece-me haver aqui alguma confusão sobre a participação dos partidos nas manifestações convocadas e organizadas pelas centrais sindicais.
1.º - Considero totalmente absurdo querer-se os partidos à margem das manifestações dos trabalhadores. É óbvio e necessário que os partidos, que são efectivamente a essência da democracia representativa, afirmem claramente a sua solidariedade e a sua presença nas manifestações e nas reivindicações dos trabalhadores, do povo, das populações, etc. Etc.
Essa solidariedade é assegurada com a presença dos seus lideres e dirigentes e das suas delegações nos actos decorrentes.
Não vimos Luis Filipe Meneses, Paulo Portas, Manuel Monteiro, ou outros, na manifestação. Vimos Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa que, muito bem, estiveram presentes marcando de forma clara a posição dos seus partidos ao lado das causas e dos protestos dos trabalhadores. Isto deixa clarinho como a água, a solidariedade e a associação de uns e o afastamento de outros na acção.
2.º - Não vejo mal nenhum na participação de bandeiras ou simbolos partidários numa manifestação de trabalhadores, bem pelo contrário, mas convenhamos que a participação organizada de uma força partidária sem o devido enquadramento num sector sindical, dentro de uma manifestação da qual não são os organizadores, colide com o cariz da manifestação e até da unidade pretendida e necessária.
Pela ordem de ideias expressas, e sendo um dado adquirido que quase todos os cidadãos participantes numa manifestação tem uma militância ou simpatia por uma força partidária, estes participantes seriam organizados pelos seus partidos e teriamos um destes dias uma manifestação com uma parte da manif cheio de bandeiras e tarjas do PCP, uma outra com as bandeiras e tarjas do BE, uma outra com as bandeiras e tarjas do PS, e assim por ai adiante.
E já agora... Uma parte também para os dirigentes sindicais que eram os organizadores e os legitimos representantes dos trabalhadores na manif.
A experiência ensina-nos que esta prática, conduziria inevitavelmente à divisão e levaria a que se transformasse a luta dos sindicatos e dos trabalhadores em acções partidárias e até de oportunismos pontuais, e se quebrasse inevitavelmente a unidade da classe trabalhadora.
Se é isto que se pretende... Então estão no caminho certo.
Os partidos políticos tem legitimidade ao abrigo da lei para convocarem e organizarem as suas próprias manifestações e acções de protesto, próprias ou em conjunto, quando assim o entendam.
As manifestações convocadas pelos legítimos representantes dos trabalhadores, os sindicatos, devem ser uma manifestação unitária, onde todos, independentemente da sua cor partidária, representem a sua classe e a sua consciência de classe.
Quanto ao apoio e à associação dos partidos, eles são claros com a participaçãos dos seus dirigentes na acção.
3.º - É indiscutível que os comunistas são uma grande parte dos participantes, não se confunda isto com a participação organizada do Partido Comunista dentro da manifestação mas sim, na participação de trabalhadores e cidadãos comunistas que com a sua consciência de classe estão sempre na linha da frente do combate e na defesa dos direitos dos trabalhadores e do povo. Mas estaria em total desacordo se por esse facto, se transformasse o protesto em acção do Partido Comunista relegando para segundo plano os verdadeiros obreiros da acção, os sindicatos e, os interesses dos trabalhadores nas suas justas reivindicações e na luta pelos seus direitos enquanto cidadãos e trabalhadores, ou relegando para segundo plano a participação de muitos outros milhares de participantes de militância ou simpatia por outras forças partidárias.
Espero ter sido claro. É este o meu pensamento.
Estimada Isabel, sobre este seu post quero-lhe dizer o seguinte: nas manifestações de carácter geral, não devia haver cartazes partidários. Ou seja: podem haver cartazes com frases de protesto, mas sem identificações específicas a este ou àquele partido organizador.
Independentemente das considerações que se possam fazer sobre isto e sem necessidade de muito rigor apreciativo, devo dizer-lhe que eu e alguns companheiros aqui da Malveira pensámos em ir à manif desta semana em Lisboa, mas depois pensámos que podíamos ser conotados com o PCP ou com o Bloco e enfim...desinteressámo-nos.
Se não houvesse bandeirinhas e não falassem exclusivamente os camaradas Gerónimo e Louçâ, tinham tido muito mais pessoas na rua.
Penso que estes dois partidos, como são pouco representativos do povo português, se servem destas manifs para propaganda, para virem nos jornais e televisões. Curiosamente, só são entrevistados os seus líderes - coisa com que também não concordo.
Que mais dizer-lhe sobre isto? Que somos velhos ou cobardes dirão alguns, mas eu acho que não, porque uma coisa é sermos contra as medidas anti-populares que este governo tem adoptado contra os mais desfavorecidos, outra coisa é assumir-me com afecto aos partidos citados.
Na dúvida, ficámos por cá...a ver na televisão.
Digo eu...
Saloio
Vermelho vivo, você escreve:
"Essa solidariedade é assegurada com a presença dos seus lideres e dirigentes e das suas delegações nos actos decorrentes.".
Mas porquê? Quem decide e porquê? E quem são as delegações? Quem é que decide quem é a delegação do meu Partido? E quem é que decide como é que a delegação do meu Partido se deve identificar? Se indo à volta do Coordenador do meu Partido ou se levando uma bandeira?
Mais à frente escreve:
"a participação organizada de uma força partidária sem o devido enquadramento num sector sindical, dentro de uma manifestação da qual não são os organizadores, colide com o cariz da manifestação e até da unidade pretendida e necessária", mas colide aonde e porquê?
O cariz da manifestação é a recusa POLÍTICA (não se trata de manifestações sectoriais, reivindicativas, de empresa) de uma determinada política, porque só poderão ir os trabalhadores enquadrados numa formação sindical?
Levemos a questão ao absurdo:é proíbida a participação de trabalhadores não sindicalizados? Ainda mais ao absurdo, onde se enquadram os desempregados? E os à procura do 1º emprego? os precários que ontem trabalharam num hotel e amanhã num Call Center da PT?
As manifestações são de trabalhadores ou de sindicalizados?
Escreve mais à frente:
"Quanto ao apoio e à associação dos partidos, eles são claros com a participaçãos dos seus dirigentes na acção", repito eu, então a pergunta; porque carga de água é que só os dirigentes do meu Partido, numa redoma qualquer, é que podem representar o meu Partido? ou só os dirigentes do seu, noutra redoma qualquer, representar o seu? levando de novo o raciocínio ao absurdo, se o Jerónimo de Sousa ou o Louçã, quisessem levar uma bandeira ou uma faixa, podiam ou não?
Cara Isabel, o que me apresenta é um perfeito jogo de palavras.
Óbviamente quem decide quem vai, porque vai, como vai...
É o próprio partido, dependendo como é óbvio também, da sua própria organização interna.
Depois, não confundamos a participação de desempregados, sindicalizados e não sindicalizados ou outros, com a presença organizada de um partido. No caso presente e que foi o exemplo que levou a esta nossa troca de argumentos, repito: pelo seu procedimento, a participação organizada do BE não tentava obter mais nada que um protagonismo próprio e injusto para os outros participantes que não tiveram o mesmo comportamento.
Esclareço-a de sou alérgico ao individualismo e ao culto da personalidade. Logo, não teria cabimento para mim pensar em redomas ou outra coisa do género para os dirigentes.
Sabe que não é a esse tipo de representação a que me refiro, e sabe tão bem como eu que as suas presenças identificam perfeitamente a posição dos seus partidos.
Chegados aqui, reitero o motivo que me fez entrar nesta discussão e a essência da questão: São totalmente injustas e incompreensiveis as acusações feitas pelos Bloquistas ao PCP. É um erro de pontaria disparar para quem está empenhado na luta contra esta política de direita. Porque é exactamente essa política de direita contra os interesses dos trabalhadores e do povo que exige o combate sem tréguas.
Cumprimentos
O Ricardo Araújo Pereira ( Gato Fedorento) foi impedido pelo PCP de falar na manifestação "unitária" do último 25 de Abril.
Nós sabemos porquê....
Os militantes do Bloco foram agredidos pelos arruaceiros do PCP na manifestação " unitária " do dia 18.
Nós sabemos porquê...
A Luisa Mesquita, o Carlos Sousa, o presidente da Camara da Marinha Grande foram corridos.
Nós sabemos porquê.
Alguns arrivistas e sectários militantes do PCP, não sabem ( nem querem saber) COITADOS......
só te chamaram palhaça, traidora, oportunista ganda puta anti-comunista
Vermelho vivo, no comentário acima, apresento-te a tua camarada Margarida, agora desde há um tempo, no Troll,quando um dia aqui colocamos uma foto, disfarçada de Anónima.
Mas, apesar de todas as divergências que eu possa ter convosco, e de todas as criticas a algumas ctuações,também tenho consciência que as Margaridas já começam a ser excepção, não te preocupes... mas que existem...existem.
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