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sexta-feira, outubro 19, 2007

Fantasmas Escrevem Artigos Científicos

Fantasmas Escrevem Artigos Científicos

Sabia que a indústria farmacêutica oferece artigos que foram escritos e elaborados por indivíduos que ela contrata, para serem assinados por grandes nomes da medicina dos Estados Unidos?

Funciona desta maneira: alguém (pessoa ou grupo de pessoas obscuras) é pago pela indústria farmacêutica para ficar nos bastidores (”escritor-fantasma”, em inglês ghostwriter) e escrever um artigo científico favorável ao seu produto (droga). Em seguida, a indústria entra em contacto com um grande médico para unicamente assinar seu nome nesse trabalho no qual ele não participou e muitas vezes nem sequer leu, em troca de dinheiro, prestígio ou ambos.

Este site canadiano entrevistou um desses escritores-fantasma, preservando sua identidade. Na entrevista, ele explica que recebe uma directiva daquilo que deve escrever, e quais estudos ele deve citar em seu artigo. Quando o entrevistador pergunta: “Eles não lhe fornecem os estudos com resultados negativos?”, ele responde: “Certos efeitos adversos não são discutidos. Simplesmente não são trazidos à tona”.

Por outras palavras, o escritor-fantasma é pago para escrever apenas sobre os resultados positivos. Os efeitos colaterais ruins, que podem ameaçar a segurança do paciente, simplesmente não são mencionados.

O escritor-fantasma entrevistado neste artigo ganha mais de cem mil dólares por ano como ghostwriter. Quando o artigo escrito por ele consegue ser publicado num Lancet, New England Journal of Medicine ou British Medical Journal, ele recebe um bónus de até 20 mil dólares.

Uma vez escrito pelo ghostwriter, o artigo é assinado por algum figurão da medicina, em troca de somas em dinheiro que, segundo esta notícia, variam entre US$3000 e US$10000 por assinatura). Quanto mais célebre e conhecido o figurão, mais credibilidade (e portanto probabilidade de publicação em revista científica conceituada) o artigo terá.

A notícia também mostra alguns casos que foram descobertos.

A médica Marcia Angell, editora-chefe durante dez anos da prestigiosa New England Journal of Medicine, afirmou, segundo esta notícia da revista Forbes, que a prática de ghostwriting é muito comum em medicina.

Alguns escândalos envolvendo ghostwriting foram descobertos, como este, publicado pela CBS News.

Infelizmente, a prática de ghostwriting parece ser uma realidade em todo o lado. A Revista da Associação Médica Brasileira possui, na sua edição de maio/junho de 2007, um excelente artigo com o título: “Escritores-fantasma e comércio de trabalhos científicos na internet: a ciência em risco”. Vale à pena clicar no link, ler e pensar.

Esse tipo de notícia é importante não apenas para quem tem algum problema de saúde, mas para qualquer pessoa que, ingenuamente, “acredita” em tudo aquilo (e às vezes, somente naquilo) que está publicado em revistas médicas de alto impacto, como se fossem “verdades científicas” incontestáveis. Infelizmente, este é o caso da maioria. Por isso, vamos reflectir.

Retirado do site do Dr. Alexander Feldman


1Comenta Este Post

At 10/19/2007 11:46 da manhã, Blogger Daniel Arruda escreveu...

Curioso sem dúvida. Mas infelizmente é o mesmo (com as devidas ressalvas) que se passa com os médicos que prescrevem não por conhecimento mas por interesses.
Ou seja, estamos desde a concepção do medicamento até ao acto de tomar reféns de uma lógica irracional. E aind ame perguntam porque normalmente recorro aos produtos de ervanária para as minhas mazelas.

 

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