É tempo de definições

Fui, e sou, dos que sempre defendi no interiror do meu partido que se deveriam fazer os possíveis, e dada a conjuntura, os impossíveis para que a convergência às esquerdas seja um realidade. E quando falo em convergências à esquerda falo de todas as esquerdas. O PCP, Sectores do PS ligados a Manuel Alegre (e outros), CGTP ou movimentos sociais como a ATTAC entre muitas outras. Porque acredito que apesar de muitas divergências aquilo que une estes grupos deverá ser maior do que aquilo que os divide.

Vem isto a propósito das declarações de Jerónimo na 6ª Feira. Eu acredito piamente que Jerónimo não tenha querido dizer aquilo que disse. Até porque logo de seguida disse que não faria nenhuma proposta e que esperava que não lhe fizessem nenhuma. E não acredito ainda depois do Avante ter publicado 4 páginas a desancar no Bloco ou as teses do PCP fazerem reparos ao BE tão "elogiosos" como:

Ponto 3.3.11 - "...para transformar as CT em comissões de empresa que facilitem a redução dos direitos dos trabalhadores, sobrepondo-as e contrapondo-as aos sindicatos. Tal orientação do PS, com a qual o BE, apesar da sua reduzida influência, converge, é uma das linhas de força das alterações do Código do Trabalho para atacar direitos e comprometer a contratação colectiva."

Ponto 3.4.6 - "A intervenção do movimento das mulheres no seu conjunto deve ser compreendida à luz de uma violenta ofensiva levada a cabo pelo actual Governo PS contra os seus direitos – particularmente o direito ao trabalho e o direito à maternidade como função social –, escondida muitas vezes por detrás de uma crescente retórica de preocupações em torno da igualdade, da «conciliação entre a vida profissional e familiar», da paridade e acompanhada pela disseminação de concepções (com as quais convergem os partidos da direita e o BE) ..."

Ponto 3.7.5 - "O Bloco de Esquerda, sob a capa de uma nebulosa indefinição do seu posicionamento ideológico e de classe, caracteriza-se fundamentalmente pelo seu carácter social-democratizante, disfarçado por um verbalismo e radicalismo esquerdizante, herdado das forças que lhe estiveram na origem, e por uma atitude determinada em muitos casos pelo anticomunismo."

3.7.5.1 - "Beneficiando de uma continuada promoção mediática e de uma importante aposta dos centros de decisão políticos e económicos, registou um aumento da sua representatividade institucional."
3.7.5.2 - "O BE, num quadro de perda da imagem de novidade e de modernidade em torno do qual construiu parte da sua influência, assenta grande parte da sua actividade numa opção pelo acessório e pela busca de protagonismo mediático, na qual são de registar crescentes cumplicidades e alinhamentos com a agenda política do PS, de que são exemplo a imposição do referendo sobre IVG, o acordos para a CML, ou Lei da Paridade. "

Estes não são todas as referências "elogiosas" que há ao BE no documento. São apenas algumas e perante isto é difícil acreditar que o que Jerónimo diz é o que Jerónimo pensa. Mas mesmo assim devemos ter espírito aberto. Só o facto de ser obrigado a dizé-lo já representa um avanço.

O que deve o Bloco fazer neste caso? O que fez. Dizer que regista com agrado e simpatia as declarações do Secretário Geral do PCP e que aguarda o congresso deste partido para ver quais são na realidade as intenções dele. Se há definições a fazer elas estão do lado deles. A começar por não hostilizar nas teses. Sim, que para haver plataformas de entendimento seja sobre o que for, não podemos viver do populismo de dizer o que os jornalistas querem ouvir sem agir em consequência.

Ficamos por isso agora assim. Até que se clarifiquem algumas coisas. Se isso ocorrer só posso ficar satisfeito e registar que o tempo me deu razão. Se não ocorrer quero ficar com a consciência tranquila que fiz no meu partido tudo o que poderia ter feito para o conseguir.

É por isso tempo de definições.