"Como dar a volta a isto?"
Intervenção no Encontro de Trabalho - Sindicalismo, os Códigos de Trabalho e os Direitos dos Trabalhadores - organizado pelo Bloco de Esquerda, no passado Domingo.
“Como dar a volta a isto”, é o lema e tentar encontrar respostas um dos objectivos deste Encontro.
E num Encontro sobre a procura de respostas, deve-se começar pelo reconhecimento da sua urgência, da ineficácia das respostas formatadas e pela nossa enorme dificuldade em as encontrar no dia-a-dia duma Organização Representativa dos Trabalhadores, no ano em que a crise do neoliberalismo atinge de uma forma particularmente severa os trabalhadores.
Em 2009, com a crise económica e social instalada no Mundo, na Europa e em Portugal, com um ambiente cada dia mais infernal e claustrofóbico nas empresas, com o medo generalizado do desemprego disseminado, ou o Movimento dos trabalhadores encontra uma nova forma de intervenção, que dê resposta eficaz a novos e velhos problemas, ou o retorno ao passado dos tempos do trabalho escravo, sem horários, sem leis nem dignidade, será o passo seguinte para o abismo.
A recente votação contra o Acordo de Empresa na Autoeuropa mostra como é correcta a opção pela Democracia e a aposta na participação. Basta passar por essas empresas fora para verificar como se tem agravado a falta de participação e de mobilização dos trabalhadores. E, chamando os bois pelos nomes, há que deixar claro que para se derrotar a desmobilização e o medo, e não há saída nas empresas sem os vencer, não basta batermo-nos contra o uso que o patronato está a fazer da crise económica para despedir, perseguir e retirar direitos, não basta batermo-nos contra Sócrates e o Código de Trabalho, há, também, que denunciar a actuação da grande maioria das Direcções sindicais que tem contribuído, ao longo dos anos, com a uma actuação autista e sectária para o isolamento dos sindicatos nas empresas e para o cada vez maior alheamento e desalento dos trabalhadores.
Os Sindicatos, cada vez mais representam empregados, o que resta dos empregados com vínculo efectivo, não representam trabalhadores. Nunca souberam ou quiseram saber o que fazer com os contratados, muito menos, com os precários. E esta é uma questão que urge responder: como se sindicaliza um trabalhador que está hoje no balcão de um restaurante, daqui a uma semana num call center, dentro de um mês numa caixa de supermercado? Que respostas se lhe dá? Que quotas precisa de pagar? A quem? Qual o tempo de referência, no caso de ter necessidade, de apoio judicial, por exemplo? Quem os informa no Sindicato? Como são recebidos? Com o tradicional “já é sindicalizado?” ou com a receptividade de quem sabe que tem à sua frente o mais explorado dos explorados, o mais perseguido dos perseguidos, o trabalhador sem amanhã?
O Não dos trabalhadores da Autoeuropa dever-nos-á servir de alento mas também nos obriga a uma reflexão séria e ponderada. Não podemos cair na tentação de corroborar a “verdade” dos donos do mundo, de que a responsabilidade das medidas que a Administração já tomou ou vier a tomar é dos trabalhadores mas também não podemos não equacionar o que vai implicar ou poderá implicar em termos de futuro nas relações de trabalho e na vida de muitos trabalhadores a legitima posição agora tomada. Encontrar a forma de não recuar sempre até ao abismo, nem avançar sempre até ao abismo, é um dos mais prementes e urgentes desafios do sindicalismo do Sec. XXI.
A mobilização dos professores é a prova de que é possível encontrar novos caminhos. Os professores tomaram nas suas mãos a defesa dos seus direitos. Levaram a reboque da sua força e da sua determinação, direcções sindicais indecisas, formatadas, grande parte das vezes, à mercê de calendários e de estratégias partidárias. Os professores mostraram que a participação é possível. E é sintomático da força da mobilização de base dos professores que os Sindicatos dos Professores sejam dos raros sindicatos que têm trabalho específico com e para os precários.
A grande batalha da mobilização e da resistência tem, no entanto, que passar pelo sector privado, o mais duramente atingido pela crise económica, pela perseguição patronal, pela aplicação do Código de Trabalho e por anos de sindicalismo autista.
Ser membro de uma ORT é, neste momento, mais que nunca, uma tarefa árdua e desgastante. Não há certezas nem há soluções mágicas. Quem acenar com umas ou com outras é porque não sabe o que é o mundo do trabalho hoje, não conhece desempregados, não contacta diariamente com precários. O dia-a-dia das empresas tornou-se um mar cheio de ameaças, de chantagens, de medos, de sacanices, de pressões, de imoralidades e de atentados aos mais elementares direitos de cada um e todos nós. Como trabalhadores e como seres humanos. O medo do desemprego, o empréstimo da casa e do carro que não se consegue pagar, o filho que precisa do infantário ou das propinas pagas, torna-nos presas fáceis desse mar e dos seus piratas. Sabemos que não fomos nós a provocar a crise…mas também sabemos que temos que ser nós a sair da nossa crise. A crise das contas ao final do mês e do comer para colocar na mesa. E isso leva-nos tantas vezes ao medo, à competição desleal, à submissão. E os “piratas” sabem isso.
Contrariar a espiral do medo passa por devolver o poder de decisão aos trabalhadores. Passa por direcções sindicais democráticas, representativas, eleitas pelo método proporcional para que todos possam concorrer no encontrar de respostas e de caminhos novos para os novos tempos que vivemos, com estatutos democráticos, onde o direito de tendência, não por imperativo legal mas por opção política e ideológica, e, neste momento também, por necessidade de sobrevivência, seja instituído.
O Bloco não se quer substituir ao PCP na forma sectária e controleira como desde sempre tratou os trabalhadores e se imiscuiu no Movimento sindical. Mas os trabalhadores do Bloco, nós que aqui estamos hoje e muitos outros camaradas que diariamente são chantageados, caluniados, perseguidos, preteridos, ameaçados ou ignorados, não podem ter receio de contar com o Bloco para encontrar respostas e trilhar caminhos. Não queremos que o Bloco controle. Não queremos que o Bloco imponha. Não queremos levar o Bloco para dentro das empresas. Sabemos que como alternativa de Esquerda, o Bloco só sobreviverá se trouxermos os trabalhadores, os seus problemas e as suas angústias, a sua força e a sua determinação, para dentro do Bloco.
A alternativa que nos propomos ser no País, passa também pelo mundo do trabalho. A crise económica, o Governo, os Códigos de Trabalho, o autismo das Direcções sindicais, obviamente que com responsabilidades diferentes, têm dado machadadas, muitas vezes quase mortais no movimento dos trabalhadores. Quando nos propomos a lutar pela mobilização e pela participação, não podemos ser acusados de divisionistas. O que junta não retira força. Dá força. Disponibilizamo-nos e comprometemo-nos a lutar para impedir o regresso irreversível ao passado. E sabemos que a emancipação, mas também a resistência dos trabalhadores, continua a ser hoje, obra dos próprios trabalhadores.
Lamento que a minha intervenção tenha sido, sobretudo, uma mala cheia de perguntas sem resposta e de muitas dúvidas.
Etiquetas: Isabel Faria
13Comenta Este Post
“há, também, que denunciar a actuação da grande maioria das Direcções sindicais” ???? Também? Principalmente! Exclusivamente! Sempre! Abusivamente! Caluniosamente! Sempre, sempre! E só! Como aliás a Isabel nunca se cansa de fazer!
“Não queremos que o Bloco controle. Não queremos que o Bloco imponha. Não queremos levar o Bloco para dentro das empresas.” ?????? Que ideia... só querem levar os trabalhadores para dentro do Bloco. Ou melhor, só querem caçar os votitos dos trabalhadores. Com o menos trabalho possível e o máximo de vantagens. A pequena burguesia é assim mesmo.
Como dar a volta a isto? Parece que a receita do Chora não funcionou para a Isabel vir para aqui com esta choradeira toda.
tanta demagogia numa só intervençao parabens muitos parabens
Algum dos meus amáveis comentadores, está interessado em discutir o post?
Não? Ok, então, vá, eu e o Daniel hoje estamos num momento de boa vcontade. Mas não abusem!!
A receita do Chora...
A receita do Chora, é ser da CT da Auto Europa eleito democraticamente pelos trabalhadores, em eleições com forte participação.
È não tomar decisões sem ouvir os trabalhadores, e quando isso for determinante, fazer votações em de cada um se pronuncie , votações que não são de braço no ar,e em que se respeitam os resultados, mesmo que eles possam conduzir a situações de impasse, como se passou recentemente.
A receita Chora, é que apesar de ser militante do BE, dentro na fábrica não impóe aos trabalhadores a estratégia do seu partido, e separa claramente o que é a sua militancia partidaria, do seu papel na CT da Auto Europa.
Isto para certas pessoas , que só cumprem ordens do seu partido, e não têm pejo em arrastarem os trabalhadores para becos sem saida, ( vide Opel da Azambuja), faz muita confusão.
Mas é assim que devem actuar os partidos de esquerda, e os seus militante.
“Isto para certas pessoas , que só cumprem ordens do seu partido, e não têm pejo em arrastarem os trabalhadores para becos sem saida, ( vide Opel da Azambuja), faz muita confusão.” ????? Não faz confusão nenhuma. Aliás exactamente a mesma comparação fez o Pinho, ministro da Economia. E a isso chamou o Carvalho da Silva «Uma vergonha e um escândalo» pois a saída da Opel de Portugal não estava relacionada com as remunerações do trabalho já que o grupo foi instalar-se em Espanha com salários mais altos. Mais uma vez, esquecem-se de falar de outros custos da produção da unidade da Autoeuropa, onde somente cerca de cinco por cento corresponde a salários dos trabalhadores. Mas de malhar nos trabalhadores e nos seus sindicatos e partidos é que nunca se esquecem.
“Os professores tomaram nas suas mãos a defesa dos seus direitos. Levaram a reboque da sua força e da sua determinação, direcções sindicais indecisas, formatadas, grande parte das vezes, à mercê de calendários e de estratégias partidárias.” ???
Nem a Milú diria melhor, não é, BÉÉÉÉÉÉÉ?
Malhar nos trabalhadores sindicatos e partidos??????
Quem malhou nos trabalhadores, só se foi quem os costuma conduzir para becos sem saida.
Malhar nos sindicatos, só se forem aqueles que de sindicalismo só entendem que têm de cumprir as ordens do partido,que pouco ou nada fazem para que os trabalhadores participem na vida sindical, que fazem eleições com cada vez menos participação, que se eternizam nas direcções, alguns há mais de 20 anos só sabem o que é ser dirigente sindical, e dos locais de trabalho e dos problemas reais dos trabalhadores, já só conhecem o eco.
Quanto a malhar nos partidos essa é para rir...
Malhar nos partidos sim mas nos da direita, e não como sectariamente faz semanalmente um jornal partidario chamado Avante,que só sabe malhar na ESQUERDA.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
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Quando a participação não lhes interessa.... "Esta mensagem foi removida por um administrador do blogue." O costume.
Participação, meu caro??
Isso é para rir ou para chorar?
Quando quiseres discutir ou comentar duma forma séria, terás a porta aberta. Quando for para caluniar, provocar, difamar, ou não entras ou se, por qualquer distração, entrares, serás "convidado" a sair. É o que quer dizer a frase que citas.
E não, não é o costume. Durante muito tempo tivemos problemas em ser acusados de censores. Depois, um dia, definitivamente, interiorizámos que o Troll não é um serviço público.
Se quiseres que te ensine a fazer um teu, é só pedires. Aí poderás destilar o veneno que quiseres.
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