Posta de um amigo desajeitado para estas coisas
Nunca tive muito jeito para as postas ditas mais lamechas. É um facto. Mas há dias em que me recordo de coisas que me põem mais "coisinho" (desculpem, não arranjei termo melhor). Hoje recordei-me da minha avó. Entre muitas outras coisas, tinha uma particularidade que me irritava. Conseguia ser mais teimosa que eu. E isso não é fácil. Enquanto foi nova isso nunca foi grande problema. Afinal era independente e vivia a sua vida e a juventude que levou, e a idade adulta que teve de viver fizeram dela uma mulher que estava habituada a ter de ser forte, levar a dela avante e partir para o combate seguinte, mas o problema é que a idade foi chegando e com ela as atrites, os reumáticos e o "mau feitio" piorava. De entre muitos problemas o pior sempre foram os diabetes. Altíssimos. A visão começou a turvar a ponto de quase não ver, mas quando a visitava encontrava sempre chocolates na gaveta e bolinhos, especialmente bolas de berlim com creme no cesto do pão. Um dia, e com todo o desplante que a caracterizava, teve o desplante de me pedir para por no lixo os restos mortais de um corneto. De nada valia os ralhetes que eu, tal como outros na família, lhe dávamos. Não só por isso, mas porque as defesas estavam baixas, um peito teve de ser amputado, até que um dia a doença levou a melhor.
Esta não é uma história incomum. Haverá mihares assim, mas a realidade é que para um filho ou um neto quando toca aos nossos tudo se torna mais emotivo e mais forte. Hoje soube que uma Amiga está a passar pelo mesmo. Pela mesma angústia de ver os seus a envelhecer, de os ver adoecer e de se sentir impotente. Mas a pior parte da angústia é que a razão que nos diz que este é um facto inevitável das nossas vidas e é sistematicamente contrariado pela emoção que nos diz que isso não é justo. Porque sabemos que eles não tomam a medicação como deve ser mas sentimo-nos culpados por não sermos nós a poder estar lá para a dar. Porque sabemos que eles comem quando lhes apetece ou como foram habituados e não como deveriam para se aguentarem melhor á idade.
Amiga de A grande, sabemos que nunca faremos o suficiente mas sei que tu farás sempre tudo o que te for possível. Mais ainda porque sabes que tens amigos que te apoiam e te ajudam em tudo o que puderem. Já passaste por muito mas sei que vais levantar a cabeça e tomar as decisões correctas. Dia a dia conforme os problemas forem surgindo e sabes que podes sempre contar comigo.
Etiquetas: Daniel Arruda
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Contrariaando as decisões todas de encontrar milhares de coisas para fazer lá fora, estas noites...não fui lá fora.
Enrolei-me no sofá e fui agorinha mesmo acordada do torpor, que não do sono, que esse hoje deve ser dificil de chegar, pelo meu filho...só para dar um beijinho de boas noites.
Vim desligar o portátil...
Obrigado Daniel.
É mais possível encontrar força quando se tem amigos, sim.
Apasar desse maldito sentimento de culpa e de impotência, eu acredito que vamos vencer esta. Não vamos vencer sempre, eu sei. Mas esta vamos vencê-la.
E sim eu sei que posso.
Esqueci-me, agora vais ficar com a assoalhada um pouco mais para ti. Hoje já tinha aberto a porta d Troll, mas apenas o teu post me deu força para a...abrir.
Pode ser um dia, dois...não sei, amigo. Sei que a vais tratar bem.
Ficam-te bem os posts lamechas. E quando somos amigos é bom que isso se note pela positiva, por dizer «presente!» quando é o momento e não apenas a ideia de 'ele (ou ela) sabe que pode contar comigo' Sabe, mas é muito diferente quando se ouve ou lê o que escreveste.
(esta assoalhada nem vai precisar de mais nada, durante uns tempos; ficamos a saborear este post)
De resto, quando se chega a uma certa idade, começamos a ter esta sensação estranha de que o mundo está de pernas para o ar, e nós passamos a ser pais-dos-nossos-pais, coisa que parece contra-natura, mas afinal é a realidade. Eu nunca precisei de passar por isso, mas vejo muitas amigas minhas a mudar a fralda à mãe ou ao pai e a dar-lhe comida na boca como também fizam com os filhos pequeninos. Coisa estranha, e ao arrepio do que nos parece natural.
Claro que esse aspecto do «ter cuidado com a saúde», que eles (avós e pais) nos ensinaram e insistiram para que o fizéssemos e agora não o fazem eles, é muito enervante. Como se desejassem que estivéssemos mis tempo com eles, como para «chamar a atenção» como fazem os putos. E o nosso coração balança, entre o desejo de realmente lhes 'fazer a vontade' e ficar com eles e a realidade que nos diz que temos de trabalhar e o tempo não permite fantasias dessas.
Vamos fazer figas para que a mãe da nossa Amiga desta vez se assuste e passe a cumprir as ordens do médico.
E a situação como está agora?
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